Leila Silveira Miranda *
Sobre este sentimento tão antigo quanto a nossa humanidade, por trás destes singelos laços que unem almas, soldam corações, superam preconceitos, existe um sem numero de relatos, de estudos, de expressões que retratam a sabedoria dos mestres e a cultura popular.
Se quase tudo já foi dito sobre o assunto, para que retorná-lo então ?
Psicologicamente falando estamos adoecendo a passos largos, na mesma proporção que se desenvolvem as novas tecnologias.
Não é exagero afirmar que a depressão será a doença deste novo século.
E o que tem a ver o nosso tema com essa tendência?
Não é coincidência que as amizades verdadeiras estão em baixa, substituídas cada vez mais pelas fofocas, mexericos e armações ilimitadas?
Para alguns, sentimentos nobres não emplacam mais, generosidade comove pouco e fidelidade é coisa do passado...
Este deslocamento do valor da amizade na formação dos jovens a cada nova geração vem contribuindo bastante para o aparecimento de novas doenças, todas elas conectadas a psique humana.
Da Grécia antiga, dos ensinamentos iniciados por Sócrates passando por Platão e Aristóteles, surgiram sua primeira conceituação na medida que apregoava que deveríamos tratar os amigos como desejamos que eles nos tratem.
Shakespeare ousou mais longe na medida que anunciou como: amigos não são os que nos enxugam as lágrimas mas aqueles que não as deixam cair.
Com a ironia e sutileza insuperáveis, Oscar Wild deu um grande passo ao reconhecer corajosamente que é fácil solidarizar-se com o sofrimento do amigo, difícil é fazê-lo com o êxito do alheio.
A melhor definição de amigo para mim aprendi com o notório médico e antropólogo, o polêmico, Doutor Hely Bonini, que define amigo como sendo aquele que festeja nossas vitórias, aquele que torce realmente para o nosso sucesso, aquele que se alegra com as novas conquistas.
Realmente é fácil compadecer-se da derrota alheia, é muito cômodo chorar as perdas do outro. Difícil é aceitar sua superioridade, suas vitórias, seu sucesso, muitas vezes em detrimento do nosso, e se alegrar com ele.
Deste mesmo médico, de quem fui aluna em Belo Horizonte, ouvi alguns diagnósticos (mais surpreendentes de minha vida) que ele dava diante de um casos gravse de tristeza, certamente já comprometido com sinais claros de depressão grave:
Você não precisa de tratamento...
Você precisa de amigos!
Extravagâncias à parte, realmente a moderna psicologia tem comprovado de diversas formas a importância da amizade na nossa saúde mental.
É com os amigos que desabafamos, reclamamos, confidenciamos, choramos, dividimos, celebramos, confiamos , enfim compartilhamos todas as emoções que movem nossas vidas.
A falta ou opção de amigos tem levado a exageros comportamentais na nossa sociedade, na tentativa de preencher este vazio existencial insubstituível tais como o apego aos animais domésticos e aos amigos virtuais, notórios companheiros das madrugadas na Internet , nem sempre confiáveis como aparentemente se apresentam ...
Na falta de diálogo, no consumo de drogas e álcool, nas intermináveis baladas, nas gangs, na violência, residem os diversos tentáculos deste polvo indomável, terrível e assustador que é a solidão.
No mundo do trabalho , o pragmatismo, a manifestação, a competição acirrada vem gradativamente corroendo este sagrado espaço, onde outrora se reuniam colegas de trabalho, durante um expediente diário e solidário.
As nossas atuais novelas retratam bem este estado de coisas, re-alimentando sua volúpia em troca de mais alguns pontinhos da pesquisa de Ibope.
Precisamos todos tomar consciência desta ratoeira que nos ameaça e aqui vão algumas dicas para desarmá-la e atrair novos e perdidos amigos:
· Invista no seu autoconhecimento, pois isto lhe trará maturidade psicológica;
· Vivencie intensamente suas emoções sem receio em demonstrar seus sentimentos (elegantemente, claro!);
· Transforme seus inimigos em adversários respeitáveis que trazem sem saber uma lição a lhe ensinar;
· Jamais prive uma pessoa de esperança: pode ser que ela só tenha isso.
· Seja aberto, acessível e o primeiro a perdoar.
· Estimule, sorria, desculpe, agradeça, elogie, visite e viva a amizade.
A todos aqueles, atuais e futuros amigos, aquele abraço!
* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte
leilasilveira@bol.com.br