Psicologia: A auto-ajustagem - por Leila Silveira

Jornal O Norte
Publicado em 05/10/2007 às 17:15.Atualizado em 15/11/2021 às 08:19.

Leila Silveira *



Encerrando nossa série Alavancas Modernas, vamos abordar hoje um aspecto mais sutil, uma estratégia fundamental, um recurso vital não só para nossa sobrevivência no mundo corporativo, mas também como um “tempero” em nossa aventura e desafio constante de viver bem, “apesar dos perigos”.



Todos nós sabemos que a vida é feita de altos e baixos, de glórias e quedas, de penhascos e desfiladeiros, de luz e de sombras.



Também é conhecido o prejuízo que a superproteção dos filhos na infância pelos pais acarreta aos mesmos na fase adulta, oscilando desde a mais fechada timidez até o comportamento autodestrutivo, origem de muitos sofrimentos.



A maturidade humana é atingida à medida que nos libertamos destas “garantias” e “armaduras” e começamos a assumir nossos próprios riscos, a fazer nossas próprias escolhas, traçando nosso próprio caminho, aprendendo a respeitar nossas intuições e “batalhar” nossa felicidade.



Ao nos “entregar” ao jogo da vida, ao nos “disponibilizar” e efetuar nosso “ckeck-in” neste vôo inadiável e particular que aguarda cada um de nós, candidatamos-nos aos “louros” das vitórias e aos “tropeços” que irremediavelmente também ocorrerão pelo caminho.



Atrasar estes “embates” com superproteção, fugir deles com “blindagens” exteriores, “maquiar” a realidade com atitudes e crenças “supersticiosas”, só infantilizam nosso comportamento e enfraquecem nossas potencialidades.



É importante então começar a criar novas “proteções”, desenvolver novas “estratégias”, acumular novos “recursos”, experimentar novas “receitas”, aprender novas “habilidades”, construindo nossos próprios “detectores”, inventando nossos próprios geradores de energia, transformadores de vitalidade e dispositivos interruptores de desligamento, de queda de tensão e afrouxamento emocional.



Ninguém agüenta ficar o tempo todo tensionado, o tempo todo “ligado” como antena, conectado 100% com os desafios que a realidade diariamente nos impõe, seja a nível financeiro, amoroso, profissional ou familiar, nem dá pra prever como profetas todas as dificuldades que vamos enfrentar pela frente...



Dessa forma, há que criar alguma “folga”, algum descanso, alguns instrumentos automáticos de ”ajustagem”, que nos permitam recuperar o fôlego perdido, e seguir em frente, sem culpas, sem mágoas ou frustrações.



Assim como existe e pode ser aprimorada a “resiliência” dos materiais com tratamentos apropriados, precisamos também  adquirir e desenvolver internamente este recurso, capaz de criar mais flexibilidade, mais resistência, mais velocidade, aumentando nossa capacidade de lidar com dificuldades, tropeços ou eventuais derrotas sem prejuízo adicional  em nossa auto-estima, melhorando nosso tempo de reação e resposta efetivos, mantendo o equilíbrio, motivação, e reduzindo nosso desgaste significativamente.



O bom “boxeador” sabe que muito mais que saber aplicar duros golpes no adversário é ter a capacidade de “absorvê-los” durante a luta, enquanto “mina” a resistência e vigor do oponente.



Jesus, com sua insuperável sabedoria psicológica deu muitas “pistas” desta preciosa habilidade, em inúmeras passagens bíblicas, ao,  por exemplo,  ensinar a seus discípulos a “sacudirem a poeira das sandálias e irem imediatamente em frente”  procurando outra habitação ao serem mal recebidos em alguma residência, para pousarem seus corpos cansados da caminhada, sem mágoas, sem delongas, sem rancores, sem ressentimentos...



Precisamos também aprender a “alargar” nossos sonhos, “encolher” nossos medos, “espichar” nossas tolerâncias, “compactar” nossa arrogância,  “expandir” nossos relacionamentos, “abrir” as comportas de nossos sentimentos, “comprimir” nossa ansiedade, “esticar” nossos limites, mesmo ao sabor dos ventos e furacões, na crista ou na base das ondas que se sucedem sem trégua, na “corda-bamba” em que temos de nos equilibrar, á luz da sabedoria da compensação, do bom-senso, da conciliação e da “auto-ajustagem” emocional.



Alavanque-se hoje mesmo!



Afrouxe os cintos de sua resistência e temores!



Aceite as mudanças e amplie sua resiliência!



* Psicóloga, professora do Isemoc/ Funorte


leilasilveira@bol.com.br

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