Dom José Alberto Moura
Para o Dia Mundial da Paz, com o início do novo ano civil, o Santo Padre, o Papa Bento XVI, apresentou a Mensagem “Se queres cultivar a paz, preserva a criação”. Lembra as palavras do Catecismo. “A criação é o princípio e o fundamento de todas as obras de Deus” (nº. 198). O ser humano, imagem e semelhança de Deus, recebe a incumbência de cuidar da terra com amor, assim como Ele, o Criador, cuida de toda a obra que fez. Para isso, precisa estar em sintonia com Deus, o semelhante e a natureza. Quando ele se coloca no lugar de Deus, não o sendo, destrói a natureza, pisa no semelhante e comete grandes injustiças, tendo consequências negativas para si mesmo.
O Pontífice lembra, com as palavras do Concílio Vaticano II, a necessidade do bom uso do planeta para o bem de todos. “Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e povos” (Gaudium et Spes - Alegria e Esperança, nº. 69). O texto bíblico do Gênesis fala do domínio da terra como missão humana, mas com respeito à mesma, segundo as indicativas do Criador. Quando sabemos fazer uso da inteligência para a utilização racional da terra, não causamos degradação e nos sustentamos de modo humano.
Para haver desenvolvimento não se pode pensar somente no econômico, nem no apossar-se dos recursos naturais e de todas as conquistas humanas para o beneficiamento de minorias, em detrimento de grandes parcelas. É possível dar base de sustentação e vida digna para todos com justiça e racionalidade no uso dos bens da natureza. Para isso, “é decisão sensata realizar uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento e também refletir sobre o sentido da economia e dos seus objetivos para corrigir as suas disfunções e deturpação”, diz o Papa.
Nessa mesma direção, ele recorda. “A humanidade tem necessidade de uma profunda renovação cultural; precisa redescobrir aqueles valores que constituem o alicerce firme sobre o qual se pode construir um futuro melhor para todos”. Hoje não podemos nos fechar em nossos problemas pessoais. Precisamos de união para promovermos uma consciência crítica e política de real bem comum. A consciência ecológica é urgente e fundamental para encaminharmos uma vida de ajuda ao planeta terra, para ele também nos continuar ajudando e a todas as gerações futuras. Deus nos criou para vivermos na solidariedade, com intensa ajuda mútua. Afinal, estamos no mesmo barco ou na mesma terra da vida! É isso mesmo que o Papa nos diz. “É urgente a obtenção de uma leal solidariedade entre as gerações”.
É muito bom iniciarmos o novo ano com verdadeira vontade de construirmos uma convivência mais solidária para o bom uso da natureza em bem de todos. Como ano eletivo, precisamos colocar a mão na consciência para elegermos quem tem ficha limpa, tem grandeza moral, não compra voto e tem capacidade para realmente trabalhar pelo bem da população. Dentro desse trabalho, é preciso exigirmos que a propriedade e o uso da terra sejam um caminho de respeito à natureza e o serviço aos mais frágeis e não o aumento das injustiças. Precisamos urgentemente da democratização do uso da terra. Assim teremos justiça e paz!
Publicado em www.arquimoc.org.br desde 28 de dezembro de 2009.