Por um triz

Jornal O Norte
28/05/2009 às 10:46.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:00

José Wilson Santos


Jornalista


zewilson@hotmail.com

Passado o medo sobreveio o alívio e dois dias depois do infortúnio os amigos Brasil, Robertinho Buiú, Bigode, Copinho e Garrincha até acharam graça de terem engrossado a estatística dos cidadãos assaltados em Montes Claros. 

Desafortunadamente, veja o senhor que coisa, assaltados por volta das 8 e meia de uma noite de domingo, em barzinho em plena praça do Cristo Rei – talvez castigo por terem ido secar o Galo, que acabou vencendo o Sport por três a dois, o que pra eles foi pior do que se verem sob a mira de um revólver.

Fique o senhor sabendo que passar pela ‘desemocionante’ experiência de ser assaltado não é um privilégio deles. O trem tá feio. Qualquer um de nós pode ser abordado dia desses por um desses ‘de menor’ empunhando um revolvão. Com uma certeza: se algo sair errado, o marginal juvenil certamente estará de volta às ruas e aos assaltos em questão de dias.

Graças a Deus, no caso dos cinco amigos nada saiu errado. Não perderam um único centavo e o assalto acabou sendo apenas uma situação perigosa –tanto quanto possa ser perigoso um jovem delinqüente com um revólver na mão e a impunidade na cabeça.

Portanto, podemos falar sossegadamente dos bastidores da inconveniência.

Estavam eles maldizendo a falta de maior reação do Sport, escornados na varanda do barzinho, quando os caras chegaram com as caras encobertas por máscaras ninja. Falou-se de três a meia dúzia. Um deles, de menor, revólver em riste, mandou todo mundo entrar.

Copinho, proprietário do barzinho, com a polpuda féria da noite no bolso, percebeu a movimentação a tempo e escafedeu-se. Correu, segundo as más línguas, até o destacamento policial do Major Prates, pra dar parte do assalto pessoalmente, em apenas um minuto, 30 segundos e 25 centésimos. Recorde nacional de corrida de assalto, pelo que fiquei sabendo.

Joquinha, o esperto garçom, também conseguiu escapar e correu a deitar-se escondido atrás da mureta da quadra, ao invés de ir pedir ajuda. Segundo ele, “porque dá um sono danado quando fico estressado”.

Bigode percebeu os dois em fuga em fincou o pé atrás. Deu azar porque, nesse momento, apareceu outro assaltante na porta dos fundos e barrou sua corrida. Dedo nos bigodões de Bigode, perguntou onde ele pensava que ia. No que o amigo não se fez de rogado na sincera resposta:

- Uai, sô! Tô indo lá em casa buscar mais dinheiro. Ser assaltado com apenas cinco contos no bolso não fica bem prum homem da minha posição. Afinal, também sou comerciante no bairro...

No escuro da cozinha, para onde foram mandados, Brasil e companhia trataram de esvaziar os bolsos, esconder grana e objetos de valor. Menos Garrinchinha, que correu pra detrás da porta e entrou em estado de choque. Com os olhos esbugalhados fitando o vazio, quase não conseguia respirar. Segundo Brasil, que labutou pra tirar o velho craque de detrás da porta, ele parecia hibernado.

Infelizmente, conforme se apurou dia seguinte com Copinho, nem tudo de Garrinha hibernou e ele teve um trabalhão pra limpar atrás da porta.

Garrincha explicou o ocorrido como um ato de esperteza extrema:

— Os caras pareciam paias. Vai daí que quisessem roubar meu bermudão de domingo? Cê acha que eles iam levar o bichão sujo?

Robertinho Buiú teve problemas pra explicar o ocorrido aos policiais militares, que queriam informações, digamos, mais precisas, para encontrar os ladrões. Os militares perguntavam e Buiú respondia no átomo da molécula:

— Como ele estava vestido?

— Com um revolvão deste tamanho!

— Era jovem?

— Não, senhor. Parecia um revolvão meio véio!

— Os cabelos eram claros ou escuros?

— Tinha cabelo não senhor. Era um revolvão careca!

— Era alto, baixo?

— Cumprido. O revolvão era deste tamanho, ó! Agora o senhor dá licença que preciso ir ao banheiro. Fui!

Tudo terminou bem, felizmente. Registre-se que a PM, acionada por telefone, chegou ao local em questão de minutos, com duas viaturas, e fez tudo o que estava ao alcance para chegar aos delinqüentes. Os ladrões levaram sete reais do caixa, não importunaram os clientes nem os saquearam. Caíram no ‘bengo’ com a mesma desenvoltura com a qual apareceram para estragar o domingão do quinteto.

Pra sorte deles, porque horas depois Bigode enfezou-se seriamente, ao descobrir que na fuga os ladrões derramaram sua cerveja.

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