Marcelo Valmor Paculdino
Professor de História Política da Unimontes
A ditadura militar (prefiro esta expressão a regime militar, pois se trata de uma imposição, já que por regime entendo democracia, república etc.) imposta aos brasileiros em 31 de março de 1964, teve como objetivo fundamental desarticular as forças vencedoras da chamada revolução de 1930 que teve Getúlio Vargas como seu líder maior.
Durante esses trinta e quatro anos, criou-se uma mística em torno da aliança PSD/PTB, denominada “dobradinha invencível”, que acabou culminando na sua diluição pelo ato institucional de número 2, com o objetivo claro de sepultar-lhes seus símbolos e lançar suas lideranças ao esquecimento.
O MDB e a Arena, criados posteriormente, obedeciam a essa lógica, portanto. Esses dois partidos, com bases nitidamente situacionistas (a Arena era o partido do Sim e o MDB o partido do Sim Senhor), só vieram a tomar contornos definitivos a partir do início dos anos de 1970, quando o MDB fez frente de fato a força política imposta pela ditadura militar.
Com a reforma política, nova tentativa de fragilizar as forças de oposição foram tentadas e, astutamente o MDB preservou seus símbolos e sua mística, incluindo o P no início do seu nome e passando de MDB para PMDB.
Em Montes Claros, no final dos anos de 1970, o que observamos é um esgotamento do modelo de gestão pública local combinada com uma falta de fôlego da elite local, que não conseguiu renovar os seus quadros.
O fenômeno Tadeu Leite se inscreve nessa realidade. A despeito do voto vinculado e da presença de Tancredo Neves como candidato a governador, Tadeu Leite surge com força não de fora pra dentro desse quadro, mas de dentro pra fora, ou seja, ao usufruir de projetos aprovados ainda na gestão Toninho Rebello (Cidades de porte médio). Mas ainda assim suas ações são tímidas, haja vista que as diretrizes de execução das verbas que o projeto trazia já se encontravam embutidas no seu nascedouro. Portanto não nasceram da sua vontade ou da sua genialidade, mas serviram para que ele fechasse um ciclo na política local.
Tadeu Leite “aposentou” politicamente Toninho Rebello, Moacir Lopes e Crisantino Borém, e com um discurso de forte apelo populista, canalizou para a sua pessoa toda a liderança política local. Mas não fez isso sozinho. Houve uma adesão, principalmente da classe média. Ou seja, nós inventamos Tadeu Leite.
O processo, a meu ver, se repete ciclicamente. As nossas lideranças políticas se encontram esgotadas. Apesar da admiração por Pedro Narciso, José da Conceição, entre outros, devemos admitir que estavam ou estão afastados da política há muito tempo. E quanto a Tadeu Leite, a sua performance eleitoral nos últimos anos não lhe dá outro lugar na história a não ser aquele que ele próprio deu ao grupo de Toninho Rebello em 1982: a aposentadoria política.
Ruy Muniz não é um novo Tadeu. São pessoas de atitudes e formação distintas, nitidamente distintas. Tadeu foi forjado na insatisfação com a ditadura militar e no discurso populista. Ruy Muniz no calor do trabalho e da iniciativa individual. Enquanto um fez carreira com projeto alheio, Ruy tratou, ele mesmo, de construir o seu que é, ao mesmo tempo, um projeto de todos, pois é empresário da educação e lida como ninguém com gente no sentido mais nobre do termo.
Portanto, Ruy Muniz abre uma nova brecha política e renova o quadro local, cabendo a todos nós, quer como admiradores ou não, de aproveitar esse espaço, essa oportunidade, e tratar de formar lideranças capazes de dar a Montes Claros, a partir da sua eleição em 2008, novas opções.
Athos Avelino dificilmente escapa do segundo turno, por motivos óbvios, e Tadeu Leite dificilmente chega a ele também por questões óbvias. Por isso, para mim, se houver segundo turno, este se dará entre o experimento e a realidade, entre a vontade e o agir. Portanto, não sejamos mais irresponsáveis e tratemos de trabalhar.