Por Manoel Higyno
Um livro delicioso e um documento, despretensioso e autêntico como deveria ser. Refiro-me a “A vida é esta”, de Beatriz Borges Martins, publicado pelo Instituto Cultural Amilcar Martins, em sua Coleção Memória de Minas, em segunda edição de 2013. No recente julho, saíram novamente esses registros, uma feliz iniciativa, por ocasião do centenário de nascimento da autora.
O leitor encontrará a Belo Horizonte de décadas atrás, com personagens que fizeram sua história, as ruas novas de então, hoje envelhecidas, as praças ainda tomadas pelas flores e sem pichações, o melhor da alma do Estado com sabor e aroma de província, a criação das famílias, os entretenimentos.
Com belo prefácio de Ana Marina Siqueira e com carinhosas palavras iniciais do filho Amilcar Viana Martins, tem-se um precioso prelúdio de apresentação, uma visão do que se se saboreará, intelectual e espiritualmente, no conteúdo. Não faltam sequer as receitas culinárias como as deixou preservadas, em seus cadernos, a autora, em um tempo em que pouco se adquiria em casas especializadas.
“A vida é esta” conduz-nos a um passeio sentimental por Belo Horizonte do século XX, aproximando-nos de pessoas e fatos que entraram para o curso de história. Beatriz nasceu em 29 de julho de 1913. As descrições são minuciosas, rua por rua. Na da Bahia, funcionava o Clube Belo Horizonte, no andar superior de prédio; no térreo, o Cinema Odeon, que tinha orquestra tocando ao lado da sala de espera. Existia ainda, a Giácomo, de loterias e engraxates.
Na Gonçalves Dias, em direção à Praça da Liberdade, a casa de Domingos Sabino, representante da Bayer, casado com D. Odete. Eram os pais do Gérson, que comentaria futebol pela TV-Itacolomi, da Luiza, da Conceição, do Toninho, da Berenice e, de Fernando Sabino, cujo centenário é também em 2013, e se casaria com uma filha do governador Benedito Valadares.
Sempre uma saudade - do Teatro Municipal, pequeno, mas lindo com balcões embaixo, camarotes no segundo andar e torrinhas no terceiro, cercadas com grades de ferro bem trabalhadas, formando desenhos delicados: “Foi nele que tive o prazer de ouvir Margarida Lopes de Almeida, quando eu era bem menina. Lembro-me de que fiquei deslumbrada ao vê-la declamando “A Mosca Azul”. Foi uma época em que a capital amava os poetas, declamados por seus maiores intérpretes.
