Poetizando as escolas - II

Jornal O Norte
Publicado em 01/10/2009 às 09:18.Atualizado em 15/11/2021 às 07:12.

Jeny Canela Perosso


Pedagoga – Funcionária pública municipal



Evidentemente que precisamos ter e incitar, sempre, olhares otimistas também frente aos desafios educacionais. Contudo,  parece-nos  fundamental faze-lo numa perspectiva de estranhamento para que possamos contribuir, de fato, para a melhoria e para a transformação. Mormente no que concerne aos números e dados estatísticos reais e ainda preocupantes sinalizadores da importância de estarmos permanentemente questionando e ousando propor alternativas e soluções  para superação das demandas oriundas, dentre outros aspectos, da estrutura sócio política econômica do sistema educacional brasileiro. Conscientes de que: “questionar é uma postura pedagógica altamente favorável a melhoria”,  conforme citação do professor e doutor Miguel Arroyo, e conforme acreditamos sê-lo.



Bastante coerente a citação legitima a necessidade de uma predisposição em abrirmos mais o leque de discussão das questões educacionais fundamentalmente aquelas concernentes as defasagens do processo ensino aprendizagem sem a pretensão de nos isentarmos da responsabilidade que é de todos e não apenas do professor em sala de aula.



Nesta perspectiva e na busca da reconstrução de fato da escola, não há como a referida instituição prescindir, nos projetos políticos pedagógicos, da riqueza incomensurável da poesia por tratar-se de recurso literário carregado de ludicidade e emoção. Ingredientes dos mais preciosos no processo de formação humanística e acadêmica de cidadãos que exercitam, verdadeiramente, o direito de pensar, bem como de protagonizar a construção do próprio conhecimento.



A poetização dos espaços educativos pressupõe, portanto, uma valorização maior dos textos poéticos que sugerem o trabalho e a exploração das especificidades mágicas da poesia refletidas na riqueza de imagens, musicalidade e rimas que asseguram uma insinuante intimidade com as letras, com as palavras e com o discernimento. E pode despertar para a doçura do prazer de educandos e educadores se familiarizarem mais com as várias vertentes do conhecimento. Desejando, cada vez mais, adentrar em seus mistérios, fascínios e patamares de subjetividade o que pode levar a compreensões maiores de conceitos e de interpretações.



A  referida   reflexão   sugere  também  repensarmos   alguns  equívocos     historicamente repetidos pela cultura escolar e que podem ser ressignificados com leveza e humildade para que tenham efeitos e reflexos positivos no processo de melhoria. Nesse sentido, poder-se-ia sublinhar, dentre outros equívocos, a sacralidade aos textos de livros didáticos quando trabalhados de maneira unica e unívoca ignorando o  amplo universo  de textos postos  na sociedade, inclusive os poéticos.



Ressalta-se que a exploração da diversidade textual e, mais especificamente da poesia, produzida pelos grandes poetas e também pelos alunos, se faz necessária pelo fato de que também favorece melhores distinções, nesse bombardeio de informações e imagens, daquelas que se aproximam mais da função social e politica do conhecimento e, consequentemente, da utilidade prática do mesmo para participações mais efetivas na vida em sociedade.



Vale sublinhar que a riqueza de possibilidades que podem advir do trabalho com   poesia favorece a escola e professores investimentos mais direcionados    para  instigar  a  inteligência  e  a sensibilidade. Fato que por si só justifica a necessidade de os projetos políticos pedagógicos   darem ênfase maior a este recurso literário que  pode   também   reascender  a   imaginação   facilitando   a sistematização e a apreensão dos conhecimentos.



Uma sugestão a ser considerada para motivar os alunos, refere-se a possibilidade de as escolas criarem calendários para trabalharem com poesias aproveitando-se das datas comemorativas antecipando, por exemplo, dia das crianças, dia do professor, dia dos pais, dia das mães, dia do meio ambiente etc.  Uma outra sugestão é o professor ler diariamente poesias incluindo não apenas os poetas consagrados mas também os revelados em sala de aula. Isso, no propósito de forjar e valorizar a formação de novos poetas, num processo de poetização maior dos espaços educativos.

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