Antônio Augusto Souto
Fui padrinho de casamento de filho de um amigo de longo percurso. O noivo, que fora meu aluno, era um galalau que quase metro e noventa. Bom rapaz, inteligente, trabalhador e honesto. Ela, posto que cheia de graça, era bem pequenininha: metro e meio, metro e quarenta e oito... sei lá.
Ao vê-la, devidamente paramentada para a cerimônia, não me foi possível deixar de pensar num daqueles bibelôs de antigamente: frágeis, delicados e lindos. Lindos e quebradiços.
Ajoelhados os noivos diante do sacerdote, pude notar que a cabecinha dela, mesmo com todos os arranjos capilares, nem chegava à altura do ombro dele.
Logo, algumas marotices começaram a voltear pela minha cabeça desocupada. Lembrei-me, por exemplo, de que havia, no meu tempo de menino, laxante popular com o nome de Pílulas de Lussem. Os comprimidos eram muito pequenos e a publicidade, feita através do rádio, dizia: “Pílulas de Lussem as pequenas que resolvem”.
Não sei se deixei transparecer, no semblante, a malandragem em que pensava. O certo é que levei beliscão da patroa, que estava a meu lado. O sexto sentido das mulheres, leitor ainda não escolado, é real, infalível e implacável. Apesar do beliscão, continuei girando o pensamento. Homem alto, casado com mulher baixinha, acaba levando algumas vantagens. Na cama, ela ocupa espaço exíguo. A despesa com a alimentação dela é quase nada. Gente pequena, pela lógica, deve comer pouco. Com meio metro de tecido, obtém-se um vestido longo... Retornei às pílulas: resolvem!
Mulher baixinha, geralmente, é encrenqueira. Emburra e dá chilique por qualquer motivo. Até mesmo sem qualquer motivo. Problema facílimo: basta dar-lhe uma Barbie dessas, que custam bem menos que perfume francês. Boneca na mão significa sorriso nos lábios, pedido de desculpas, agradecimento... essas coisas. A cronologia seguinte pertence ao marido e a Deus.
Mas sempre há de haver momento em que a baixinha vai querer briga mesmo. Aí, é só erguê-la pelas orelhinhas. Ela vai esmurrar e chutar o vento, até cansar-se. Depois, basta aconchegá-la, no bolsinho do colete... Ainda aqui, a cronologia seguinte pertence a Deus e ao marido galalau.
Levei outro beliscão.
Mais uma coisa: mulher pequenininha, se engordar muito, vira bola. E o marido deita e rola... no banco de reservas.
Tive que interromper minhas divagações, que a cerimônia chegara ao fim. Depois das fotografias e dos cumprimentos, veio a festa.
Ela, já sem os trajes nupciais, quero dizer, sem os paramentos de noiva, circulava, lépida e fagueira, por entre os convidados. Ele acompanhava-a, sorridente e feliz. Também pudera: carregá-la no colo, rumo ao leito da estréia, ia ser moleza.
Antes do ponto final, devo dizer que meu avô paterno era pernalta e minha avó, baixinha. Meu pai era baixinho. Minha mãe também. Eu nasci pernalta.
A patroa não é baixinha. Se o fosse, casar-me-ia com ela, do mesmo jeito. E recasaria, ainda hoje, depois de quarenta e dois anos.
Como disse Reginauro, em e-maill de amizade exposta, no jornalismo e na vida, o que faz a diferença atende pelo nome de amor.