Eubúlides PETACHO
Não faz muito tempo a revista ADUSP - Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo publicou artigo sobre o uso da pesquisa eleitoral como instrumento de marketing político. O texto tocava em questões como a margem de erros das pesquisas, análise do desempenho dos institutos, seus erros no período eleitoral e o comportamento e a responsabilidade da mídia na divulgação dos dados, manipulação etc..
Na mesma edição, o jornalista e presidente do Instituto Gutenberg, Sérgio Buarque de Gusmão apontou vários erros tendenciosos das pesquisas, principalmente de institutos suspeitos e desconhecidos, indicando as falhas grotescas e a irresponsabilidade de quem as divulga.
Ao referir-se aos institutos de pesquisas, Sérgio Buarque afirmou: ou melhoram a aritmética ou contratam uma cartomante. Em relação à mídia, Sérgio diz que, em vez de proteger as mazelas dos institutos, das quais foram cúmplices na divulgação de dados errados, os meios de comunicação deveriam zelar pela boa informação de quem compra notícias.
A revista ADUSP e o respeitado jornalista foram no ponto. Em períodos eleitorais, principalmente, as tentativas de enganar o eleitor não têm limites e manipula-se, inventa-se, criam-se números que são manipulados e remanejados de acordo com os interesses de quem paga pelos serviços.
No primeiro turno das eleições deste ano no Brasil, o Ibope foi acusado, de norte a sul do país, de manipular números. O exemplo mais contundente aconteceu em Manaus, capital do Amazonas.
Lá, a liderança do candidato a prefeito Amazonino Mendes, PFL, constatada pelo Ibope, foi colocada sob suspeita. O levantamento desse instituto mostrava a liderança do candidato pefelista, com 55% das intenções de voto, seguido de longe por Serafim Corrêa, do PSB, com 14%, o que representava 41% à frente.
O segundo colocado desconfiou da diferença, pediu uma investigação, e três doutores em estatística da Universidade Federal do Amazonas examinaram os dados. Descobriram que a pesquisa entrevistou, proporcionalmente, mais eleitores nos redutos eleitorais de Amazonino Mendes.
Esse está entre os casos mais graves de manipulação de pesquisas, porque de dimensão nacional. Casos semelhantes repetiram-se por todo o país, inclusive em Montes Claros.
Portanto, todo o cuidado é ainda muito pouco na hora de ler sobre pesquisas que indiquem este ou aquele candidato na liderança. É preciso desconfiar sempre. E, principalmente, não se deixar influenciar por elas que, como bem disse o jornalista Sérgio Buarque, está mais para cartomancia do que para pesquisa de fato.
Em tempo: em Manaus, como aqui, os candidatos foram para o segundo turno e a propalada vantagem divulgada pelo Ibope não ocorreu nas urnas. Agora, é uma nova história.