Pés descalços

Jornal O Norte
Publicado em 18/01/2010 às 11:27.Atualizado em 15/11/2021 às 06:17.

Ronaldo Duran


Romancista, autor do livro O bode pede socorro


contato@ronaldoduran.com



O ideal seria que toda pessoa que passasse por mim gerasse um sentimento bom. Sem isto de preferência. Não importasse idade, gênero... Que a pessoa que eu encontrasse a cada momento me trouxesse a sensação de bem-estar, de esperança, de estar de bem com a vida. Pena que não é assim. Pelo contrário. Há criaturas que nos horrorizam com a simples presença. Nada a ver quanto a serem esteticamente belas ou não. Quantas belas fisionomias me causam amargor.



Torço para que um dia eu evolua para achar satisfação em estar ao lado de quem quer que seja.



Por enquanto, sigo o consenso que diz que há pessoas especiais, que nos atraem como um ímã, ao passo que existem aquelas que nos repelem como um peixe podre.



Hoje é segunda-feira. Estou prestes a enfrentar quatro horas da disciplina da tarde. De manhã, amarguei Estatística, das 7h 30 às 11h 30. Claro, até corrigi a bateria de exercícios, no minínimo trinta minutos a mais. O almoço teria que ser rápido. Vou correr para o restaurante universitário.



No caminho de volta da refeição, eu a encontro em frente da biblioteca central. Sabe o papo da pessoa que faz a diferença. Ela é um exemplo.



Nem vou dizer que ela é linda. Prefiro deixar o óbvio para lá. Basta dizer que quando a vejo me sinto bem. Estuda Arquitetura, tem um jeito despreocupado. De saia ou short, a camiseta e os pés descalços. No início, achei estranho, e quase segui a maledicência dos que dizem que ela quer é se exibir.



Mas se exibir com o quê, perguntaria eu. Nada. Ela, super-simples, transparente. Passa para mim uma pureza acolhedora. Se eu não fosse tão tímido, se eu tivesse destreza não apenas para resolver os problemas nas aulas de Cálculos... Queria ter lábia, presença para conquistá-la. Porém, nada de me chatear. Saber que ela estuda no mesmo campus, e que gosta de falar comigo, já me alegra.



De primeiro, eu fiquei fissurado nela. O tempo foi passando. Agora percebo que o que me basta é poder vê-la andando de pés descalços, exibindo um sorriso que encanta, passando a idéia que a felicidade está nas coisas simples como descalçar-se e caminhar no campus e ter amigos com quem prosear num ou noutro intervalo das aulas.



Que alegria inusitada quando numa tarde, com o sol de rachar, eu a encontro por um acaso no corredor e a vejo andar sozinha, ou acompanhada dos amigos. Quando me vê, sempre tem tempo e interesse em me cumprimentar, em me acenar, tão diferente das meninas que acham que o mundo pertence somente a elas.

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