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Sexta-Feira,27 de Dezembro

Personalidade, sexualidade e transgressão - por Neumar Rodrigues

Jornal O Norte
Publicado em 01/08/2007 às 11:29.Atualizado em 15/11/2021 às 08:11.

Neumar Rodrigues *



Há pouco tempo, a polícia de Uberlândia prendeu um casal acusado de abuso sexual contra uma filha de 7 anos. Ela, estudante universitária e ele,professor universitário com nível de pós-doutoramento. Crimes dessa natureza são mais comuns do que se imagina. Basta ver constantes denúncias publicadas. O que leva um adulto a abusar sexualmente de uma criança, uma vez que as possibilidades de satisfação sexual entre pessoas adultas são grandes se comparadas com algumas décadas atrás?



Segundo Freud, o pai da Psicanálise, somente em casos excepcionais crianças são escolhidas como objetos sexuais exclusivos. Poderíamos ser tentados a atribuir tais atos como conseqüência de uma doença mental, porém, a experiência tem demonstrado que os distúrbios sexuais nos doentes mentais não são diferentes dos observados nas pessoas sãs. A pedofilia caracteriza-se como uma perversão sexual. São muito variadas as perversões sexuais. No entanto, chama a atenção que a maioria delas, normalmente as menos graves, estão presentes pelo menos em fantasia na maioria das pessoas sadias. As perversões são tendências universalmente humanas. Ainda segundo Freud, se as circunstâncias favorecem a expressão da perversão, as pessoas normais podem também substituir o objeto sexual normal por uma perversão por muito tempo.



Algumas perversões sexuais, no entanto, se distanciam sobremaneira do objeto sexual original sendo difícil não qualificá-las como patológicas. Freud cita, como exemplo, o prazer em lamber excrementos ou manter relações sexuais com cadáveres, pelo fato de a finalidade do instinto sexual ter se desviado tanto. Adverte, porém, que pessoas normais, sob o domínio do desejo sexual, podem se colocar como pessoas doentes somente no âmbito sexual.



Os objetivos sexuais dos pervertidos são idênticos aos das crianças. Nas perversões, a sexualidade é substituída por um dos componentes da sexualidade infantil. Essas pessoas têm uma sexualidade infantil e não adulta, sendo tal característica resultado de uma parada no desenvolvimento da personalidade e da sexualidade ou regressão.



Um dos fatores que levam um adulto a se refugiar na sexualidade infantil são as frustrações sexuais através do processo da regressão. Nisso, a maior ênfase da sua vida sexual desloca-se para o pré-prazer, ficando difícil estimar onde termina a estimulação e onde começa a gratificação. Isso mostra por que a maioria dos pedófilos consegue se satisfazer sem precisar praticar o ato. Carícias, toques, olhar e sexo oral podem ser extremamente excitantes a ponto de levá-los ao orgasmo. Essas pessoas raramente têm na criança seu objeto sexual único, conseguindo ter relações sexuais com pessoas adultas também. Quando, porém, uma perversão tem as características de exclusividade e fixação, difícil não classificar tal ato como patológico como no caso de alguns pedófilos.



Estamos vivendo um momento cultural e político onde a transgressão deixou de ser exceção para se transformar na regra. Transgride-se no trânsito, no pagamento de imposto, na honestidade, na responsabilidade. A mídia tem favorecido o despertar dos desejos e a busca do prazer. Ter apenas uma parceira ou parceiro sexual parece pouco e a infidelidade parece que cada vez vai se tornando algo “normal”. O prazer proporcionado pelas pessoas do sexo oposto na intimidade já não é mais satisfatório, uma vez que no imaginário formas mais intensas de prazer se podem conseguir. Daí experimentar drogas ou a homossexualidade é apenas um detalhe nesse aceite geral de quebras de limites e valores.



Da mesma forma, a busca de pessoas bem jovens para o prazer sexual poderia se enquadrar nesse frenesi pelo prazer a qualquer custo.



* Jornalista

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