Dom José Alberto Moura *
A perseguição é um ato muito praticado. Mostra o caráter da pessoa que busca, a todo custo, satisfazer seu desejo de vingar-se de uma atitude não aceito do outro. Persegue-se por se sentir lesado, por mágoa, inveja, ciúme, interesse, egoísmo, falta de compaixão e perdão. O mal não está somente no outro. Vive dentro da pessoa que quer, a todo custo, reparação e satisfação pela atitude do outro. Muitos, mesmo com o reconhecimento da culpa e do pedido de desculpas do semelhante, procuram vingar-se, até com ações superiores à ofensa recebida. Mortes acontecem. Não raro governantes fazem o mesmo com outras pessoas, comunidades, estados e países. Guerras surgem, inclusive por este motivo.
Conhecemos a história de Davi, consagrado para ser rei do povo hebreu, sucedendo a Saul. Este, percebendo os predicados daquele, que era muito louvado pelo povo por causa de seus prodigiosos feitos no campo de batalha, quis eliminá-lo (Cf 1 Sm 26,2-23). Deus fez com que Davi fosse salvo, através da amizade sincera do filho de Saul em relação a Davi. Este poderia ter-se vingado do opositor. Não o fez, respeitando a autoridade do rei. É verdadeiro exemplo de quem não se vinga por respeito ao preceito de Javé, protegendo a vida humana e submetendo-se de modo inteligente à autoridade.
No mundo de tantas ameaças, perseguições, guerras, mortes e artimanhas para se lesar o próximo, impedindo seu crescimento e desenvolvimento de seus talentos, ficamos perplexos e reflexivos quanto aos valores da vida e da dignidade humana. Mesmo na política, o jogo de interesses faz com que se impeçam pessoas de conseguirem eleger-se pelo trabalho contrário de invejosos. Na família não raro vemos ciúmes provocarem a ruína do casamento. Na comunidade o jogo do poder também pode oferecer ocasião de uns quererem minar o desenvolvimento de atividades e boas lideranças. É preciso pensarmos bem e nos colocarmos em atitude que reflete nova mentalidade. Afinal, Deus outorga dons diferenciados para o bom serviço a todos. Precisamos muito de forjarmos nosso eu para sabermos dar vez aos outros, estimulando o desenvolvimento do dons de cada um. Às vezes um elogio é como uma flor oferecida em sinal de bem-querer e apoio ao bom desempenho do outro na família, na comunidade, no trabalho e em toda convivência social.
O jogo do empurra-empurra na acusação da causa de um mal-feito provoca irresponsabilidade e injustiça em relação ao semelhante, que pode ser penalizado por culpa não havida. Assumir a verdade do erro nos leva a barrar qualquer tipo de perseguição, mentira e vingança. Jesus não se cansa de ensinar o amor, que leva à cooperação com o bem do próximo: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam,... a quem te ferir numa face, oferece a outra... Dá a quem te pedir, e não reclames de quem tomar o que é teu. Como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles” (Lc 6,27-31).
* Arcebispo Metropolitano de Montes Claros