Valmore A. de Souza (*)
Pois Eu, em nome próprio, e no exercício de, pelo menos, minhas faculdades de discernimento, então de forma lúcida, decido me denunciar por alta traição aos interesses da Obra coletiva. Acuso-me de omissão diante das ambições individuais, de poder pelo poder, por parte dos líderes eleitos na construção do Castelo.
Pois vi esses líderes – antes nossos companheiros, soldados fiéis nas votações do Conselho e na escuderia do destino do Castelo - começarem a burlar a segurança sob o manto da noite, quando a guarda cochilava, para usar a nossa confiança na satisfação de seus caprichos em comércio clandestino.
Pois esperei até ver, derrotado um a um, os milicianos veteranos abandonando o Castelo, quando se tornou tão comum o amanhecer com mercenários disfarçados entre a Milícia, as assembleias do Conselho aprovarem as infidelidades dos líderes, e este órgão não mais cumprir a sua função.
Pois, contudo ainda compactuo com os ajudantes de ordens, que continuam reunindo o Conselho, mas agora num rito, para manter a ilusão daqueles milicianos que não bateram em retirada.
Pois, enquanto o inimigo, ombreado por aqueles companheiros, à luz do dia, porque já não precisam se esconder, marcham ostensivamente, hasteando bandeiras estilizadas com as marcas promíscuas, para a tomada do Castelo, ainda estamos vivos. Indignamente vivos!
Pois então peço que me julgue antes da batalha final. Se eu for condenado, os milicianos retornarão, para salvar o Castelo.
(*) Sociólogo e assessor sindical