Rafael Lessa Costa
A safra do pequi – fruto típico do cerrado brasileiro – chegou e, com ela, os deliciosos pratos feitos com a combinação de pequi e diversos outros alimentos. Sei que muitos de nós esperamos um ano inteiro para saborearmos tal fruto. É tão bom irmos ao Centro e escutarmos:
- Três dúzias por um real!
Além do prazer da degustação, também podemos constatar que incontáveis pais de família desempregados (mas honestos) conseguem, com a venda do pequi, comprar uma bonequinha de plástico para a filhinha ou uma bola de borracha (a mais barata, né!) para o garotão – filhos que sofreram todo um ano com frio, fome e, inclusive, vendo-nos divertir enquanto eles catavam latinhas de cerveja vazias nos mais variados eventos e nas mais diversificadas horas (para que brincadeira melhor do que suplicar por uma latinha de alumínio?!).
Mesmo assim, hoje, ao voltar das compras de natal (não de bolas de borracha e, muito menos, de bonequinhas de plástico), observei a intolerância do governo municipal que diz procurar o melhor para a cidade e, por conseguinte, para seus habitantes, recolhendo bancas e humilhando os vendedores de pequi no centro da cidade. Como se não bastasse a humilhação maior de esses trabalhadores não terem uma carteira profissional assinada, não terem o 13° salário e, também, não tomarem o vinho que o patrão oferece aos funcionários no natal.
Claro que a prefeitura municipal está corretíssima ao empregar tal medida, afinal, aquelas banquetas recheadas de pequis amarelos (e suculentos!) em nada combinam com a caríssima iluminação de natal branca e verde instalada por alguma secretaria de governo no Centro da cidade. Talvez, o espírito de decorador existente na alma de cada um de nós possa compreender tamanha brutalidade que supera o espírito natalino.
Infelizmente, hoje concluo que o administrador de Montes Claros não tem se preocupado em combater uma outra “profissão” ilegal que tem nos aterrorizado muito a cada momento em que saímos de casa para pagar imposto com dinheiro no bolso, visto que quem não teve educação suficiente para crescer profissionalmente, também não pode trabalhar em profissões que ao senhor prefeito não agrada.
Sendo assim, fica fácil imaginar qual seria a outra maneira de se ganhar dinheiro, não fica senhor prefeito?!