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Domingo,21 de Dezembro

Pelo caminho

Por Cláudia Gabriel

Jornal O Norte
Publicado em 18/09/2013 às 09:33.Atualizado em 15/11/2021 às 17:11.

Por Cláudia Gabriel

Adoro andar sozinha porque me perco nas cenas que encontro pelo caminho. A manhã azul de domingo estava daquele jeito que te obriga a sair da vida sedentária. Peguei minha trilha sonora e segui para a orla da Pampulha. Já na chegada, a primeira imagem. O famoso jacaré dava um show... Não foi a primeira vez, mas o bicho hoje estava todo exibicionista, com um jeitão até sorridente. E foi muito fotografado.

Logo à frente, todos aqueles “atletas” que adoram levar os cachorros para um passeio numa calçada concorrida. Mantive o bom humor, observando como os animais se parecem com os donos. Um homem grandalhão está sempre por lá, calado, com um cão também enorme. As mocinhas delicadas, ao contrário, carregam cachorrinhos mimados e que tremem de ansiedade.

Mas o que me chamou a atenção foi a alegria de uma criança de 2 ou 3 anos, correndo atrás do avô. E, na sequência, uma grávida com aquela barriga ainda pequena, toda tímida, encostada numa árvore. Discretamente, ela levanta a camiseta. O homem, que parecia ser o pai do bebê, ajoelha-se, buscando o melhor ângulo da gravidez. Pra mim, uma cena de amor que não era óbvia. Gosto dessas... Nada de beijo, abraço ou mãos dadas. São gestos muito sutis e que significam tanto.

É, as minhas andanças solitárias sempre me enchem de vontade de escrever. Num outro dia, quis ficar perto de casa mesmo e inventei uma nova rota, subindo e descendo ruas pra explorar melhor o bairro. Diminuí o ritmo pra não assustar um senhor que aparentava mais de 80 anos, sentado num banquinho, aproveitando o sol da manhã. Estava pensativo... Pensava no tempo que passou ou no que ainda tinha pela frente?

Pela porta de vidro do salão, vi a cabeleireira conhecida. Ela havia perdido um filho e cuidava do cabelo da cliente, com o olhar perdido. Não me viu, mas senti a dor daquele silêncio. Também vi moradores de rua com aquela expressão afetada pelo excesso de bebida e pela falta de comida.

E vi cenas comuns, como a mulher lavando o carro, o homem pronto pra descarregar um caminhão de areia, um rapaz dando sinal para que os carros passassem, sem que nada estivesse atrapalhando o trânsito, uma conversa animada entre duas amigas...

Já li que a gente deve fazer coisas diferentes pra enganar a mente e ter a impressão de que o tempo passa mais devagar. Naquele dia, sem querer, constatei isso. Minha caminhada pareceu bem mais longa. Foi até mais cansativa porque tive que criar um trajeto pelos passeios estreitos e esburacados. Mas, não foi nada monótona. No fim, entre um “bom dia” e outro, entre uma cena triste e outra feliz, tudo o que vi foi a vida. A vida acontecendo enquanto eu tentava achar novos caminhos.

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