Avay Miranda *
Parece que o brasileiro está acometido de uma doença que faz com que o indivíduo aceita comportamentos nocivos ou vê os graves acontecimentos num plano ilusório de uma maneira normal. O sujeito se acostuma tanto com determinada situação que nem pensa em questioná-la. Ela passa a fazer parte do cotidiano, mesmo trazendo prejuízos significativos, para o país, para a sociedade e para a democracia.
Assistimos a escândalos políticos como corrupção e desvios de recursos de uma maneira normal. Embora reivindicações por mudanças sejam constantes, ficamos só no discurso. Ao invés de curar o mal pela raiz, somos tentados a simplesmente desviar do problema. Passiva, a sociedade aguarda providências das “autoridades” as quais, quem sabe, nunca chegarão, uma vez que parte delas está envolvida com os acontecimentos.
Com efeito, a falta de ética dos ambiciosos e o comodismo generalizado inibem credibilidade e bom senso, restringindo a iniciativa e o trabalho criador necessário a uma sociedade próspera e equilibrada. E isto não acontece somente no meio político-social, estamos vendo isto em todas as camadas da sociedade.
Nos últimos cinco anos, o Brasil tem passado por mementos difíceis em sua vida política administrativa. A corrupção atingiu os três Poderes da República, o Executivo, o Legislativo e até o Judiciário, este que é o guardião dos direitos da sociedade, está, também, infelizmente, contaminado pelo germe nocivo da corrupção.
Essas entidades, ABI, AMB, CNBB e OAB, foram sempre guardiãs da moralidade, da liberdade, da legitimidade e da legalidade. No entanto, nos últimos acontecimentos de 2007, com a corrupção se alastrando no Poder Executivo, quando, até um Ministro caiu, atingindo vários membros do Poder Judiciário e envolvendo dois Senadores, inclusive o atual Presidente do Congresso, essas entidades, que outrora eram dinâmicas, participativas e fiscalizadoras, não tomaram uma posição firme e determinada sobre os assuntos.
Ressalte-se que na última semana o AMB lançou uma campanha contra a corrupção e pela moralidade, mas, ao invés das outras entidades tomarem uma posição favorável e se juntarem a ela, não. Ficaram omissas. Uma omissão inaceitável e inconcebível.
Admira-se que, mesmo no tempo do regime militar, com a restrição da liberdade, essas entidades estavam ativas, vigilantes e fiscalizando as atividades governamentais.
Por que não atuam agora contra o alto grau de corrupção que grassa nos poderes da República? Por que a combativa OAB está omissa? Porque a CNBB, tão ciosa de sua posição contra as coisas erradas, está calada? Por que a ABI, grande defensora da liberdade de imprensa e da democracia, está paralisada, inerte?
Essas quatro entidades juntas têm condições de mobilizar a sociedade brasileira contra a corrupção e os desmandos. Quanta mentira se ouve, quanto engodo de vê, quanta manobra existe para proteger os políticos envolvidos em corrupção e as entidades e o povo ficam aí de braços cruzados.
Gostaria que essas entidades provassem que eu estou errado e me mostrem trabalho em favor da moralidade, da ética, da democracia e do Brasil.
* Juiz aposentado, advogado e cristão