Peixe fora d’água?! Por Helder Caldeira

Jornal O Norte
Publicado em 11/02/2011 às 09:09.Atualizado em 15/11/2021 às 17:21.

Helder Caldeira (*)


 


Quer legitimar-se malandro e ainda ganhar um salário milionário sem fazer nada? No Brasil isso é moleza: basta candidatar-se a uma vaga no Congresso Nacional e, obviamente, vencer a disputa. Enquanto o povo brasileiro vai amargar um vergonhoso aumento de salário de R$ 30, nossas excrescências parlamentares concederam-se um pequeno incremento salarial de R$ 10 mil. E pra que? Para trabalhar metade das terças, uma parcela das quartas, e uma pequena parte das quintas-feiras. Isso para aqueles que ainda o fazem, porque alguns mal chegaram e já dão sinais de que lição de vagabundo na Câmara é igual palavrão na boca de criança aprendendo a falar: gruda por instinto.



Quinta-feira, dia 3 de fevereiro, marcou oficialmente o início dos trabalhos legislativos do Congresso Nacional em 2011. Por si só, isso já é uma piada: começar os trabalhos no último dia útil dos parlamentares. Eis que o jornal carioca Extra estampou um flagra escandaloso: Romário, o pseudo-herói brasileiro e recém-eleito deputado federal pelo PSB/RJ, jogando uma peladinha na praia da Barra da Tijuca em pleno horário de expediente. Uma variante do socialismo tropical. Mas sua presença estava registrada no Plenário, em Brasília. Como isso é possível?



O jornalista Antero Gomes, autor do flagrante, conseguiu descobrir. A sessão da última quinta-feira começou às 14 horas e terminou quase às 19 horas. O registro de presença dos deputados é moderno, mas propositalmente falho. A chamada “Presença de Casa” pode ser registrada pelos parlamentares através da leitura de impressões digitais em qualquer uma das dezenas de máquinas espalhadas no Congresso Nacional e que, em tese, garante que o cidadão estava presente naquele dia de trabalho. De acordo com o jornal Extra, o deputado Romário registrou sua presença em uma das portarias da Câmara pouco depois das 10 horas da manhã e logo depois se pirulitou para o Aeroporto Juscelino Kubitschek, onde pegou o primeiro voo para o Rio de Janeiro.



Ainda segundo a matéria e a foto-flagrante do jornal carioca, por volta das 17 horas, enquanto transcorria a primeira sessão legislativa de 2011 do Congresso Nacional e alguns deputados apresentavam 170 projetos de lei, 5 projetos e resolução, 3 projetos de lei complementar e 1 emenda constitucional, o “Baixinho” jogava uma saudável partida de futevôlei na praia da Barra da Tijuca. Simples e fácil assim. Com a mesma rapidez que fez gols inacreditáveis outrora, o ex-atleta já está completamente inteirado das práticas vagabundas dos parlamentares brasileiros. Peixe fora d’água?! Que nada. Romário está melhor que pinto no lixo. Literalmente.



E fica minha pergunta de sempre: onde está a vergonha na cara? Será esta um sentimento em extinção? Ou mais de meio milhão de votos são capazes de aniquilar qualquer presunção de sua existência? Porque, falando sinceramente, eu fico profundamente envergonhado com essas excrescências dos nossos parlamentares. Sem o menor pudor e totalmente seguros da impunidade que os alimenta, os congressistas continuam tratando o povo brasileiro como um amontoado de idiotas votantes e a nação como uma mãe tão generosa quanto cega às suas ilegalidades. E nem os novatos conseguem se salvar. O recém-deputado Romário, o “Peixinho”, batendo uma pelada na praia na hora do expediente, é prova inconteste da irresponsabilidade e da impunidade que reinam absolutas nas praias políticas do Brasil.



(*) Escritor, colunista político e palestrante


heldercaldeira@estadao.com.br

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