Marcelo Queiroz Braga


Escritor

Comprada a pequena bicicleta, daquelas de rodas de plástico, cores berrantes do super-herói preferido ou da boneca do momento, o par de rodinhas auxiliares muito bem instalado, já poderão o pai ou a mãe dizer: “Pode se sentar, minha filha.”, ou, “Vai, meu filho!”. E o cenário do parque ganhará uma nova perspectiva, diante daqueles olhos mirins.

Nesses mesmos olhos, aflição haverá. É um caminho diferente. É uma velocidade enorme! É um caminhar surpreendente! E são as mãos dos pais que os ajudarão a guiar, a levantar, quando o guidom se perder daquelas mãozinhas rechonchudas.

Ajudar...

Ensinar...

A cria nada mais é do que o pedaço de nós que transcende a nós mesmos. A semente que plantamos para que o mundo colha. Os olhos que verão por nós, quando não tivermos mais luz.

Daí o prazer que há em se ensinar a uma filha ou a um filho.

Quem não sorriria o mais terno dos sorrisos se pudesse voltar no tempo e, adulto, segurasse o selim da própria bicicleta, naquelas primeiras pedaladas longínquas, dando segurança a si mesmo, aquela pessoinha ofegante e assustada?

É isso que se faz com os filhos. Com a enorme vantagem de não se precisar contar com a benevolência desse senhor incansável e irredutível – o tempo.

E o filho, em sua colossal insegurança, não sobreviveria sem essa mão no selim. Não há filhote mais frágil na natureza... E não há herói mais forte que o genitor humano!

Todos precisamos de nossos pais. E seguimos contando com eles pelo resto de nossas vidas.

Porém, como o pequeno pássaro que sabe a hora de cruzar os ares com suas próprias asinhas, cabe aos filhos sentir o momento em que se livrarão das “rodinhas auxiliares”. Porque a mão forte que dava segurança não teria pernas rápidas o bastante para que os filhos pudessem acelerar em busca de seus sonhos.

Distantes, quatro olhos maravilhados, de orgulho marejados, enchendo de luz o caminho que já traçaram e não lhes cabe mais percorrer. Mas nada impede (e tudo, mesmo, incentiva) que os dois corações pulsem conselhos, aprovações ou críticas, para os novos protagonistas desta corrida.

Como quem diz, simplesmente: “Vão! O parque é inteirinho de vocês.”.