*Manoel Hygino
O Brasil todo ouvia falar de suspeitosos negócios na sua maior estatal. Mas poucos tinham provas suficientes para abrir a boca no mundo e fazer denúncias. Além do mais, era gente importante demais no ou nos “negócios”, de modo que desanimava despertar a lebre. No reino da Dinamarca, como contou Shakespeare no “Hamlet”, sabia-se que havia algo de podre, mas quem tomou a iniciativa de acusar foi o assassinado rei Cláudio, que transmitiu ao filho sua versão dos fatos, de que já desconfiava. Para salvar a pele, Hamlet teve de passar por louco.
Na Petrobras, era muito dinheiro e poder em jogo, tudo finalmente pago com o tributo do cidadão, das megalópoles ou dos cafundós.
Uma negociata do mais alto nível como agora se sabe porque os fatos e detalhes se tornaram públicos, lançando a julgamento da opinião pública (se existir) nomes de estrelas da política e seus operosos assessores. A própria presidente foi alcançada, como ex-ministra da Casa Civil e de Minas e Energia e ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
Como revelou Eliane Catanhede, na “Folha de S.Paulo”, a presidente “resolveu fazer uma nota para os repórteres Andreza Matias e Fábio Fabrini, reconhecendo que votou no Conselho de Administração a favor de um negócio todo enrolado porque se guiou por informações “incompletas” e num parecer “técnica e juridicamente falho”.
Em consequência, o ex-presidente Gabrielli e o diretor internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, são arrolados como responsáveis pela negociata da refinaria de Pasadena, no Texas, em que milhões de dólares foram jogados fora, ao beneficiar alguém por favorecimento pessoal ou de grupo. Para se avaliar, bastaria registrar que a danada da refinaria foi comprada por uma empresa belga por US$ 42 milhões, depois passada à Petrobras por US$ 1,2 bilhão.
Só então a Petrobras se convenceu de que fizera um mau negócio e decidiu vender o bem em questão. Constatou-se que a refinaria valia menos de US$ 100 milhões. Posta à venda, o Tribunal de Contas da União resolveu investigar as estranhas negociações que produziram um prejuízo superior a US$ 1 bilhão. No balanço do ano passado, só com esta refinaria, a Petrobras, ou seja, o Brasil, isto é, o patrimônio do povo brasileiro, perdeu mais de R$ 450 milhões.
Há os que ganham e os que perdem. No capítulo seguinte da novela, como se publicou neste nosso jornal, a Petrobras teve um prejuízo bilionário, o barão Albert Frère, de 88 anos, foi quem lucrou. Ele é um dos homens mais poderosos da Bélgica e um dos controladores da empresa belga Astra Oil. Esta comprou a refinaria de Pasadena, no velho Texas, em 2005, por US$ 42 milhões e, no ano seguinte, vendeu 50 por cento dela. A empresa do barão recebeu mais UR$ 820,5 milhões pela outra metade por força de uma cláusula no contrato. A Petrobras, que já foi a 12ª maior empresa do planeta há cinco aos, passou para 120º. E falta contar muito ainda.