Por Márcio Adriano Moraes
Professor e Escritor
Desculpem-me, mas não resisti, tive que escrever. As exposições do Parque de ex-posições só existem mesmo na lembrança de alguns. Os mais jovens não podem ser agraciados pelas belas maquetes, fotografias, stands de anos muito anteriores. A Expomontes, infelizmente, continua sendo Showmontes.
Há exatamente um ano, escrevi, neste espaço, a crônica “Parque de Ex-posição”. Não pude evitar o anseio de expressar aqui novamente um segundo capítulo dessa história. No ano do sesquicentenário, as exposições do Parque foram poucas. Este ano, houve uma mudança, as exposições tornaram-se minúsculas! Grande foi o meu susto quando vi que uma das únicas galerias desse espaço agropecuário estava fechada. Apenas duas empresas ocuparam tal espaço que, outrora, era farto de exibições. Até as famosas barraquinhas de cachorro-quente tiveram sua extinção decretada. Ainda bem que os bois e cavalos resistem firmes em seus propósitos. Quando esses animais saírem de cena, aí sim, podemos dizer que “a vaca foi para o brejo” e não voltou mais. A Expomontes se tornou realmente Showmontes. Adeus, bovinos e eqüinos; que venham os cantores populares com seus pop’s e seus lares.
Gosto musical, como disse na crônica de um ano atrás, é relativo. Não concordo muito com essa idéia, mas quem sou eu para questionar Einstein que nos ensinou a “relativizar” as coisas. Os jovens, com certeza, sentiram-se amados por alguns cantores e cantoras que, nesta terra do pequi, escancararam suas vozes. Quem realmente é fã não se importou de assistir a seu ídolo ali dentro do curral, sentindo um cheiro de estrume amassado. Tudo é festa. Falando em amassado, os “amassos” joviais estão ficando ainda mais intensos e avançados. A transferência de fluídos labiais continuam em alta, o que é considerado normal, demonstrações públicas de carinhos. Mas quando a transferência ultrapassa as labiais, aí a situação começa a se complicar. Quando eu passava próximo ao banheiro perto do parquinho, as mãos, ou melhor, os braços de um rapaz já estavam ocultos em uma calça jeans feminina. Praticamente um atentado violento ao pudor.
Com relação ao parquinho, nada mudou. Na minha concepção pessimista, talvez tenha até regredido. A gigantesca roda-gigante, presença imponente em praticamente todos os bons parques, foi extinta desde o ano passado. Os olhares não puderam sair das cercaduras do parque. A montanha-russa? Espero que nenhum russo tenha visto a do parque, ficaria ofendido. Os preços, salgados do ano passado, nestes 151 anos se tornaram mordazes, ásperos, corrosivos, abusivos.
Não sou daquele tempo em que a Exposição acontecia, salvo engano, de quatro em quatro anos. Lembro-me de poucas coisas. Mas as fotografias que meus pais guardaram dessa época enchem minha boca. O Parque era de Mega Exposições. Os testemunhos dos antigos são unânimes: o Parque foi atrativo naqueles tempos de “pára-quedistas; poetas e repentistas populares; esquadrilha da fumaça; pipas; stands em fartura; balões; desfiles; bandeiras; animais, não só bois e cavalos, mas também cabras, pôneis, pavões; vasta fauna e flora...”
Que a força dos agricultores e pecuaristas resistam a essa degradação da Expomontes. E que os futuros governantes de nossa cidade olhem com carinho para o nosso bolo de aniversário. E que no ano dos 152 anos, Montes Claros possa ser presenteada com uma Exposição digna de uma Princesa do Norte.