Pacto político

Jornal O Norte
Publicado em 23/07/2010 às 10:50.Atualizado em 15/11/2021 às 06:33.

Marcelo Valmor


Professor e articulista



O surgimento de candidaturas fora do espectro político local nos aponta para a necessidade de rever o “pacto político” que foi “assinado” entre a então elite montes-clarense e o poder central.



Sabemos, e já foi dito isso várias vezes aqui, que o norte de Minas foi alvo de um certo isolamento por parte da elite colonial e depois confirmado pelo “povo” de Belo Horizonte. Que esse mesmo isolamento só começou a ser rompido a partir da chegada dos trilhos do trem em 1926, saudado pelo memorialista Hermes de Paula como o ano mais importante da história de Montes Claros.



A chegada desses trilhos trouxe consigo a ampliação da presença do Estado na medida em que vários órgãos públicos tiverem como endereço a Princesa do Norte. Mas os mesmos trilhos que traziam uma idéia de progresso são contestados por alguns historiadores da Unimontes. Afinal, se traziam “novidades”, levavam consigo parte do patrimônio acumulado por essas plagas.



Outro elemento que vai ajudar a romper esse isolamento é a nossa inclusão na área que a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - Sudene abrangerá, isso já nos anos de 1960. Mas assim como no caso dos trilhos, os efeitos serão diminutos, já que o norte de Minas precisará de investimentos em infra-estrutura para receber os capitais que queriam migrar pra cá. Não tínhamos um mercado de trabalho qualificado, assim como não tínhamos estradas para escoar qualquer tipo de produção. Só não ficamos a ver navios, de fato, porque por aqui não tinha e não tem mar.



Portanto, os acordos estabelecidos entre a elite local, a elite mineira e o governo federal nesses períodos naufragou. Afinal, o trem não existe mais, as empresas financiadas pelo projeto Sudene, ou quebraram, ou mudaram de endereço. E as estradas encontram-se em péssimo estado. A recuperação da Br 135 só saiu do papel depois que empresários locais precisaram fazer as vezes do governo e encomendar, sob o regime de urgência, um projeto para refaze-la, cabendo ao governo federal somente o trabalho de colocar dinheiro.



Portanto, os homens que assinaram esse pacto para que fosse rompido o nosso isolamento estarão, para sempre, marcados na nossa história, mas esses novos tempos requerem uma revisão das nossas demandas e a identificação das nossas potencialidades para que possamos sentar na mesa de negociação, novamente, e discutir pontos fundamentais para que sejamos integrados, de forma definitiva, a tão decantada Minas Gerais. Aquela dos banqueiros como bem chamou a atenção Luiz de Paula Ferreira.



E quais seriam essas nossas potencialidades e nossas demandas? Em primeiro lugar, os fazendeiros já não obedecem somente a lógica do coronel, ou seja, modernizaram suas propriedades e mantém, ou procuram manter, uma relação mais próxima da civilidade com seus empregados. Outra coisa é a presença de um forte comércio. Além disso, estamos desenvolvendo, mesmo que a revelia do Estado mineiro, um grupo de intelectuais que brota da Unimontes e de várias faculdades privadas, capaz de refletir sobre a mais óbvia constatação de que a liberdade individual só é possível a partir da valorização da região. Nesse sentido, inúmeras teses de mestrado e doutorado tem procurado colocar em xeque o tratamento dispensado a todos nós. A organização dos pequenos produtores e a valorização da cultura local é outro elemento. E, por último, temos a ampliação considerável do nosso contingente eleitoral, algo em torno de um milhão e meio de votos.



Portanto, são esses novos atores que deverão sentar-se à mesa de negociação e apresentar essas novas demandas e assinar um novo pacto. Evidentemente que isso não será feito de comum acordo com os governos, federal ou estadual, daí a nossa necessidade de refletir sobre a capacidade da nossa elite política de fazer valer esses novos interesses. Daí a necessidade de se pensar em renovar – se for o caso - nossa classe política o que nos colocaria, também, no centro das decisões sobre política industrial, agropecuária e intelectual.



As novas candidaturas postas tanto para a Câmara Federal, quanto para a Assembléia Estadual, podem acelerar esse processo. Fora disso, restará o lamento e o estado natural que tanto Thomas Hobbes fala, ou seja, a guerra de todos contra todos.



A estratégia política precisa ser renovada a partir da óbvia constatação da renovação das nossas demandas, e pensar grande, nesse caso, é constatar que não tem como a cidade e região avançar senão com projetos onde todos ganham. Alguns muito, a maioria menos, mas que todos ganhem.

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