Por Manoel Hygino
É uma pena, mas José Bento não passou o último fim de semana prolongado do ano entre nós, nem pôde festejar o dia de Santa Luzia em sua cidade natal. Ele aproveitou o feriado municipal de Assunção de Nossa Senhora, em Belo Horizonte, para escapar, sorrateiramente.
O povo de Santa Luzia tem desses mistérios e caprichos. Desta vez a surpresa não foi boa, porque todos os amigos e admiradores tinham certeza de que José Bento era daquelas pessoas nascidas para viver para sempre. Bom companheiro (a palavra tinha acepção cordial e de bem-querer), bom colega (no sentido de ler... co-legere), jornalista por todo o tempo, escritor da melhor espécie, cidadão exemplar, patriota por nascimento e convicção, líder estudantil, coerente nas posições políticas, pai de família devotado, simples, modesto.
Querido em todos os ambientes, irônico, rico na verve, bem se houve em todos os cargos que ocupou e posições que exerceu. Viveu de bem com a vida, como conta em livros e crônicas, entre os quais os que evocam suas viagens ao exterior, informativos e deliciosos.
Colaborador do governador Milton Campos, escreveu um trabalho memorável sobre o grande mineiro. Conviveu com os mais ilustres membros da velha escola de homens públicos do Estado e intelectuais de renome, formando amizades na imprensa e nas letras, que muito sentirão sua falta. Sem falar nos remanescentes frequentadores de tradicional bar da rua da Bahia, não mais existente, que ali deixavam fluir amáveis conversas em horas de folga e beleza para os privilegiados.
Não se pode deixar de pensar que um personagem da dimensão cultural, intelectual, social e humana de José Bento Teixeira de Salles mereceria um livro muito especial, como ele fez com relação a Milton Campos. Orador excelente, espontâneo no ser e no viver, era uma espécie de rosto da Academia Mineira de Letras. Sua presença ali impregnava a Casa de iluminada bonomia. Foi lídimo representante de uma geração, que marcou época na história mineira, e de Belo Horizonte muito especialmente.
Lembro Drummond: “Costumava haver desencontro entre nossa juventude e nossa cidade. Clamei contra ti, Belo Horizonte, em instante de fúria triste. Destruí tuas placas, queimei tuas casas, teus bondes; ao despertar dessa angústia, vi que o amor escolhe caminhos difíceis para chegar a seu destino”.