Milton Coelho da Graça *
A desonestidade de Ratinho com seus espectadores, recebendo “grana por fora” para entrevistar o presidente Lula em seu programa, de jeito nenhum é coisa nova na televisão. Agora ou recentemente, malandros alugam horários em uma emissora e ganham um dinheirinho cobrando dos “entrevistados”.
Um deles até pretende ser candidato a deputado neste ano, de olho em faturamento maior.
Em 1962, esse golpe foi aplicado em grande escala no Brasil pelo IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), que levantou muitos milhões de fontes empresariais nacionais e estrangeiras, com o objetivo de influir no resultado das eleições estaduais naquele ano (não havia então coincidência de mandatos com o do Presidente da República). O líder aparente do IBAD era Gilberto Huber, dono das Listas Telbefônicas, mas o verdadeiro cérebro era o General Golbery do Couto e Silva, depois organizados e chefe do Serviço Nacional de Informações.
O grosso da grana foi concentrado em Pernambuco, onde Miguel Arraes, prefeito de Recife, enfrentava o candidato conservador, João Cleofas.
Para enfrentar o total domínio dos meios de comunicação, Arraes acertou com Samuel Wainer o lançamento de uma edição pernambucana de ÚLTIMA HORA, a quatro meses da eleição. Samuel mandou a Recife Múcio Borges da Fonseca (como diretor) e eu (chefe de redação).
Arraes venceu e assumiu. Por divergências salariais, acabei saindo de UH no ano seguinte e fui ser editor do Diário da Noite (vespertino ligado ao Jornal do Comércio).
- O mais famoso deles era Ruy Cabral, cujo programa “Cadeira de Engraxate”, na TV Jornal do Commercio, era líder de audiência
Amigo e boa fonte no governo, o Secretário de Segurança de Arraes, coronel do Exército Hangho Trench (a quem Pernambuco e o Brasil até hoje não renderam a homenagem devida por sua dedicação democrática), me colocou na pista do antigo secretário-executivo do IBAD em Pernambuco. Esse pilantra, da mesma forma como se colocara a serviço da safadeza, oferecia-se agora – também por dinheiro, é claro - para entregar cópias de cheques que haviam sido pagos pelo IBAD como suborno, inclusive a jornalistas e apresentadores de televisão.
O mais famoso deles era Ruy Cabral, cujo programa “Cadeira de Engraxate”, na TV Jornal do Commercio, era líder de audiência. Quem tiver acesso à coleção do Jornal do Comércio, poderá encontrar minha reportagem com fac-similes de vários cheques. A publicação em um jornal do mesmo grupo da TV só foi possível pela integridade do diretor do JC, o íntegro Esmaragdo Marroquim.
E, se alguém estiver interessado na história da corrupção na comunicação, pode encontrar esse interessante episódio na coleção do jornal (não recordo a data certa, mas foi entre junho e setembro de 1963).
Ratinho é apenas um sucessor de Ruy Cabral. E muito bem sucedido.
* Jornalista/ Comunique-se!