Ajax Tolentino
Crianças são as alegrias dos adultos. Quando somos mais jovens, as crianças são nossos filhos, que são os mais belos, inteligentes e brincalhões do mundo. Aos quais dedicamos momentos de nossas vidas, eles são as nossas felicidades.
Quando somos mais velhos, as crianças são nossos netos. Elas são as crianças de nossas crianças, é muito salutar possui-las. Eu invejo que os têm. Fiz minha parte, pois tenho filhos com idade para eu ser avó. Mas, faltam os netos para completar a minha felicidade terrestre; pois sou pai, já plantei muitas arvores e escrevi um livro.
Está aí, o meu presente para todos as crianças, um conto; em especial para Victor Augusto, neto de Reivaldo Canela. Como não tenho neto agora, dedico antecipadamente também, para as crianças das minhas crianças, este conto, para um dia, se Deus quiser, elas lerem.
CASA MAL-ASSOMBRADA
Maria, a filha mais nova da família, chamou seus oito sobrinhos de 12 a 15 anos para passar uns dias na Fazenda do seu irmão Marcos; sendo eles cinco garotos e três garotas. Depois de consultados os pais, todos aceitaram. Para ajudar a levá-los foi convida a matriarca da família, a tia Neuza, professora universitária que apesar de irmã mais velha, era solteira. E tinha suas manias, uma delas, só dormia sozinho em um quarto.
Avisaram o tio Marcos; ele mandou arrumar a casa de hospedes da fazenda, que há mais de seis meses não era habitada.
Para lá foram. Chegando à fazenda pela tardinha, na caravana composta pelos dois carros das tias. Logo foram saindo dos carros e se dirigindo aos aposentos, com suas malas. A casa tinha três quartos; um ficou para a tia Neuza, o outro para tia Maria e as meninas e o terceiro para os meninos.
Tomaram banho e em seguida jantaram comida caipira, feita no fogão de lenha, e depois comeram de sobremesa, doce de leite da roça.
A seguir, uns foram ouvir um rádio a pilha e os outro foram jogar baralho. Tudo estava iluminado por lampiões a querosene. Obviamente lá não tinha luz elétrica, a água para o banho foi aquecida no fogão de lenha, através das serpentinas.
Ao chegar o sono, cada um, por sua vez foi para o quarto.
Mais tarde, já madrugada, um dos meninos acordou para beber água. Ele ao chegar à sala, ouviu uns baques nas portas de entrada da casa; ficou com medo e chamou os outros, mas, não tiveram coragem de abrir as portas para verem o que era. Para tentar enxergar, olharam pelo vidro de uma janela da sala. E o que viram!.!. Foi uma luz amarela,e não era uma fogueira porque a luz era parada. Em seguida foram até a outra janela, e lá enxergaram outra luz também fixa, mas só que era cintilante esverdeada. Apavorados foram pedir socorro à tia Maria, pois a tia Neuza não gostava de ser incomodada enquanto estava dormindo.
Como a casa era sem forro, ao movimentarem pela sala para irem ao quarto da tia Maria, viram vários vultos no ar, que ficavam prateados ao passar de frente a uma fresta no telhado, por onde penetrava a luz do luar, dando a impressão de serem pequenas vassouras voadoras.
Chamada a tia Maria, as vassouras apareceram, mas somente umas duas vezes mais e desapareceram. Enquanto que às luzes vistas das janelas continuavam lá; de uma janela via-se uma luz amarela cor de fogo e da outra, uma luz verde cintilante, bem maior. E os batuques nas portas continuaram. Ai, também a tia Maria não teve coragem de abrir uma porta para ver o que era.
Ficaram quietos, todos foram dormir juntos nos sofás da sala, pois tiveram a convicção de que a casa de hospede era mal-assombrado. Só restou rezarem para o dia amanhecer logo. Só a tia Neuza continuou dormindo sem nada saber.
No outro dia cedinho acordaram-na e ficaram sabendo que a luz amarela era um lampião a querosene, que ela havia colocado lá fora porque a fumaça estava atrapalhando-a dormir. Não desligou porque o pino estava muito quente.
Na noite seguinte, batalhão em alerta, além do tio Marcos foi dormir na casa o capataz. Lá pela madrugada foram até a janela e pelo vidro vislumbraram a luz verde cintilante. Até o capataz ficou meio receoso. Com o movimento de todos na casa, começaram a aparecer às vassouras voadoras. Com uma lanterna focalizaram as vassouras, eram enormes morcegos, que moravam na casa antes abandonada e que se assustaram com o movimento. Ai, começaram as batidas nas portas e todos recuaram. O tio Marcos, com um revolver na mão e o capaz com um facão abriram uma e depois as outras portas. Em todas elas tinham bichos do mato como teiús e coelhos, que fizeram dos portais da casa suas moradias, pois a casa antes estava abandonada.
Ficou somente a luz verde cintilante, lá fora, Marcos e o capataz criaram coragem e foram até lá, enquanto os outros ficaram na casa morrendo de medo. Foram chegando... chegando... quando estavam perto avistaram um toco coberto de vaga-lumes, ali era um ninho de vaga-lumes (pirilampos, fosforescentes). De dia eles entravam para oco do toco, ninguém os via, e á noite emergiam para voar, num vai e vem , enquanto noite fosse. Aí ficou o dito por não dito, a casa não era mal-assombrada.
Nossas mentes em muitas vezes nos levam a convicção da existência de uma coisa, que na realidade não existe.