Os netos - por Ajax Tolentino

Jornal O Norte
Publicado em 05/10/2007 às 11:17.Atualizado em 15/11/2021 às 08:19.

Ajax Tolentino                                                        





Crianças  são as alegrias dos adultos. Quando somos mais jovens, as crianças são nossos filhos, que são os mais belos, inteligentes e brincalhões do mundo. Aos quais dedicamos momentos  de nossas vidas, eles  são as  nossas  felicidades.



Quando somos mais velhos, as crianças  são nossos  netos. Elas são as crianças de nossas crianças,  é muito salutar possui-las.  Eu invejo que  os têm. Fiz minha parte,  pois tenho  filhos com idade para eu ser avó. Mas,  faltam  os netos para  completar a minha felicidade terrestre;  pois sou pai, já plantei muitas arvores e escrevi um livro.



Está aí, o meu presente para todos as crianças, um conto; em especial para Victor Augusto,  neto de Reivaldo Canela.  Como não tenho neto agora, dedico antecipadamente também,  para   as crianças das minhas crianças,  este conto,  para um dia, se Deus quiser, elas lerem.



CASA MAL-ASSOMBRADA



Maria, a filha mais nova da família, chamou seus oito sobrinhos de 12 a 15 anos para passar uns dias na Fazenda do seu irmão Marcos; sendo eles cinco garotos e três garotas. Depois de consultados os pais, todos aceitaram. Para ajudar a  levá-los  foi convida a matriarca da família, a tia Neuza,  professora universitária que apesar de irmã  mais velha, era solteira. E tinha suas manias, uma delas, só dormia sozinho em um quarto.



Avisaram o tio Marcos; ele mandou arrumar a casa de hospedes da  fazenda,  que há mais  de  seis  meses  não era  habitada.



Para lá foram. Chegando  à  fazenda  pela tardinha, na caravana composta  pelos dois  carros das tias. Logo foram  saindo dos carros  e se dirigindo aos aposentos, com suas malas. A casa tinha três quartos; um ficou para  a tia Neuza, o outro para tia Maria e as meninas e o  terceiro  para os meninos.



Tomaram banho e em seguida jantaram  comida caipira, feita no fogão de lenha, e depois comeram de sobremesa,  doce de leite da roça.



A seguir, uns foram  ouvir  um rádio a pilha  e os outro foram jogar baralho.  Tudo  estava iluminado por lampiões a querosene. Obviamente lá não tinha luz elétrica, a água para o  banho foi aquecida no fogão de lenha, através das serpentinas.  



Ao chegar o sono, cada um, por sua vez  foi  para o quarto.



Mais tarde, já madrugada, um dos meninos acordou para beber água. Ele ao chegar à sala, ouviu uns baques nas portas de entrada  da casa;  ficou com medo e chamou os outros, mas, não tiveram coragem de abrir as portas para verem o que era.  Para tentar enxergar,  olharam pelo vidro de uma  janela da sala. E o que viram!.!. Foi uma luz amarela,e não era uma fogueira porque a luz era parada. Em seguida foram até a outra janela,  e lá enxergaram outra luz também fixa, mas só que era cintilante  esverdeada.  Apavorados foram pedir socorro à tia Maria, pois a tia Neuza não gostava  de ser incomodada enquanto estava dormindo.



Como a casa era sem forro, ao movimentarem pela sala  para irem ao quarto da tia Maria, viram  vários vultos  no ar, que ficavam prateados ao passar de frente a uma fresta no telhado, por onde penetrava a luz  do luar, dando a impressão de serem pequenas vassouras voadoras.



Chamada a tia Maria, as vassouras apareceram, mas somente umas duas vezes mais e desapareceram.  Enquanto que  às luzes  vistas  das  janelas continuavam lá;  de uma janela  via-se uma luz amarela cor de   fogo e  da outra,  uma luz verde  cintilante, bem maior. E os batuques nas portas continuaram.  Ai, também a tia Maria não teve  coragem de abrir uma porta  para  ver o que era.



Ficaram quietos, todos foram dormir juntos nos sofás da sala, pois  tiveram a  convicção de  que a casa de hospede  era  mal-assombrado. Só restou rezarem para o dia amanhecer  logo. Só a tia Neuza continuou  dormindo sem nada saber.



No outro dia cedinho acordaram-na e ficaram sabendo  que a luz amarela era um lampião a querosene,  que ela havia colocado lá fora porque a fumaça estava atrapalhando-a dormir. Não desligou porque o pino estava muito quente. 



Na noite seguinte, batalhão em alerta, além do tio Marcos foi dormir na casa  o capataz.  Lá pela madrugada foram até a janela  e pelo vidro vislumbraram a luz verde cintilante. Até o capataz ficou meio receoso. Com o movimento de todos na casa,  começaram a aparecer  às vassouras voadoras. Com uma lanterna focalizaram as vassouras, eram enormes morcegos,  que moravam na casa antes abandonada e que se assustaram com o movimento. Ai, começaram as batidas nas portas e todos recuaram. O tio  Marcos, com um revolver na mão e o capaz com um facão  abriram uma e depois as outras portas. Em todas elas  tinham bichos do mato como teiús e coelhos,  que fizeram dos portais da casa suas moradias, pois a casa antes estava abandonada.



Ficou somente  a luz verde cintilante, lá fora,  Marcos e o capataz criaram coragem e foram até lá, enquanto os outros ficaram na casa morrendo de medo. Foram chegando... chegando...  quando estavam perto  avistaram um toco coberto de vaga-lumes, ali era um ninho de vaga-lumes (pirilampos, fosforescentes). De dia eles entravam para oco do toco, ninguém os via, e á noite emergiam  para voar, num vai e vem , enquanto noite fosse. Aí ficou o dito por não dito, a casa não era mal-assombrada.



Nossas mentes em muitas vezes  nos levam a convicção  da existência   de  uma coisa,  que na realidade  não existe.

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