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Os famintos do mundo - por Neumar Rodrigues

Jornal O Norte
Publicado em 02/08/2007 às 10:31.Atualizado em 15/11/2021 às 08:11.

Neumar Rodrigues *



A globalização foi até há pouco tempo apresentada como a grande panacéia para a erradicação da pobreza no mundo e para o desenvolvimento dos povos. O castelo de areia começa a ruir. Já houve tempo mais que necessário para que os efeitos da globalização fossem percebidos, e eles estão aí, mas quase todos negativos. A corrida pelo tal desenvolvimento fez com que os países aumentassem à exaustão a exploração dos recursos naturais, sem nenhum planejamento em termos de futuro, jogando na atmosfera milhões de toneladas de gases poluentes.



A busca por aumento de área para produção agrícola fez com que florestas fossem destruídas, desequilibrando os ecossistemas perigosamente. A necessidade de consumo fez aumentar perigosamente a utilização de defensivos agrícolas, eufemismo para veneno, contaminando a terra e os mananciais de água.



De acordo com recente relatório divulgado pela ONU, 1,1 bilhão de pessoas vivem em extrema pobreza no mundo (menos de R$ 61 por mês), oitocentos milhões de pessoas vão dormir famintos a cada dia, e a cada hora morrem 1,2 mil crianças no mundo, a maioria delas em conseqüência da desnutrição. Somente na China, 800 milhões de pessoas vivem no campo, sendo que a maioria delas em condições precárias. No entanto, seu país vai muito bem de finanças em termos de governo central, com superávit anual de algumas centenas de bilhões de dólares.



Tudo isso conseguido à custa da exploração do povo. Os operários na China trabalham de 12 a 15 horas por dia, muitos deles sem descanso de fim de semana, para um salário mensal em torno de R$ 250. Ainda que o mundo nunca tenha produzido tantas riquezas, a grande maioria dos povos não tem acesso a ela, ou quando tem são apenas migalhas.



O que tem ficado cada vez mais claro é que a globalização deu um grande impulso na produção de riquezas, mas facilitou o aumento da concentração dessa riqueza, não sendo capaz de socializá-la. O número de pessoas ricas (com mais de US$ 1 milhão) tem aumentado significativamente nas últimas décadas, sendo que uns poucos indivíduos possuem juntos mais de US$ 1 trilhão em riquezas.



Ora, quando poucos têm muito, muitos têm pouco. Os governos são constituídos por pessoas ricas, uma vez que o custo de uma campanha eleitoral impede com que um pobre seja eleito, quando consegue se candidatar. Assim a classe política e a econômica se confundem, da mesma forma que os dirigentes dos bancos públicos se confundem com os dirigentes de bancos privados. Seus interesses são sempre privilegiados, uma vez que têm sob controle todo poder  socioeconômico-político.



O fosso entre a classe dirigente e a população tem aumentado com a  globalização. Ao povo resta trabalhar cada vez mais para ao final de um ano perceber que, com todo o esforço, mesmo assim ficou mais pobre do que era no início do ano.



Existem riquezas para todos no mundo. A terra tem sido extremamente generosa para com o ser humano. Nunca se produziram tantos bens que permitem melhorar a qualidade de vida das pessoas. O que tem faltado, sim, é decisão política de distribuição de riqueza. O povo tem sido chamado na hora de produzir as riquezas, mas é ignorado quando de sua distribuição.



O contingente de famintos e desempregados tem sido tão grande que os empresários podem escolher e pagar como querem seus empregados. Enquanto permanecer esse modelo concentrador de renda no mundo, apenas os ricos - pessoas e países - terão qualidade de vida, sobrando aos pobres migalhas para continuar a produzir a riqueza dos outros.



* Jornalista

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