Waldir de Pinho Veloso
Advogado, professor universitário e escritor
Antes de eu conhecer as pessoas, em pessoa, de Montes Claros, eu já conhecia algumas pelo fato de serem escritoras. Eu tomava a edição de fim de semana dos jornais locais e as lia com imenso prazer. Especialmente, a parte literária. E, nestas, jamais faltava o nome de Olyntho Alves da Silveira. Era colaborador respeitado e sempre presente nas páginas literárias.
Era uma das pessoas que, para mim, mesmo antes do conhecimento pessoal, seu nome era familiar. Não tenho absoluta certeza de quando conheci Seu Olyntho a ponto de travar conversa com ele. Muito provavelmente, após conhecer Dona Yvonne Silveira, nome a ele indissociável. Mais provavelmente ainda, após ele ter conhecido a minha então namorada, depois noiva e minha sempre querida e adorável mulher, Dária. O trabalho de Dária era em um banco vizinho de Seu Olyntho e Dona Yvonne, e de utilização destes para movimentações.
Sei que nada intermediou o momento de conhecê-lo e dele me tornar amigo. Não por minhas qualidades, mas pela pessoa amigável que Seu Olyntho sempre foi. Da sua casa, saía algumas vezes para ir à loja em que eu trabalhava, para uma conversa rápida. E rápida porque o ato de militar no balcão limita o tempo, ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, amplia os limites das relações interpessoais, das amizades, do conhecimento de mundo, da argumentatividade. Do preparo para a vida em suas múltiplas exigências para o bem viver.
O fato de Seu Olyntho da Silveira ir me visitar, no meu local de trabalho, não era, para ele novidade. Ele o fazia em relação a diversas pessoas. Sempre soube que ele, todos os dias, ia à casa do poeta Cândido Canela. Mais recentemente, tomei conhecimento de que a visita era aos fins de semana. Prefiro a informação da conversa pessoal diária. E, em minha casa, tempos após os primeiros contatos, ele e Dona Yvonne compareciam em datas especiais ou para visitas cordiais. Giowana, ainda muito pequena, passou a chamá-lo por Vovô Olyntho.
Posso dizer, então, que Olyntho da Silveira foi meu amigo.
Sempre que me foi possível referir a Seu Olyntho da Silveira, disse que ele é/era escritor de qualidade. E que, durante muito tempo, sua profissão foi ser leitor. Lia como quem cumpre horário de trabalho: um expediente de leitura, pausa para o almoço, e a volta à leitura. No mínimo, oito horas de contato com as letras. Como foi criado em uma época em que o conhecimento da Língua Francesa era tão imperioso quanto o da Língua Inglesa dos tempos atuais, aprendeu Francês sem jamais ter tido aulas da disciplina. Era autodidata por excelência, já que conhecia o idioma francês com tanta profundidade que lia livros franceses em impressão original. E, se gostasse muito de alguns livros sem tradução para o Português, fazia a tradução para que alguns amigos pudessem saborear a literatura.
Posso afirmar que outra profissão de Seu Olyntho era ser amigo. Tanto exerceu a pura amizade que, mesmo ocupando cargos políticos, não cultivou inimizades. Completaria um século em fins de agosto de 2009 sem jamais ter tido inimigo. A morte o levou quatro meses e poucos dias antes de comemorar o centenário de vida. E houve o reconhecimento da sua importância. A imprensa ficou impregnada de textos de realce das suas grandes qualidades. Não faltaram elogios. Melhor dizer reconhecimentos, pois o que ficou escrito foram palavras que verdadeiramente se encaixam à pessoa e à personalidade de Seu Olyntho.
No caso de Seu Olyntho, foi um reconhecimento verdadeiro.
A Academia Montes-Clarense de Letras, entidade que passou a integrar poucos anos após a sua fundação, foi seu Presidente e ainda cedeu sua mulher Yvonne Silveira para presidi-la, fez uma reunião especial em homenagem ao centenário de Olyntho da Silveira. Foram declamados seus poemas, interpretadas suas composições musicais (sim, ele era também compositor, e de qualidade) e houve falas emocionadas sobre a sua pessoa. No dia da reunião em homenagem ao seu centenário, Seu Olyntho já havia falecido. Quatro meses e poucos dias antes. Mas, teria sido a mesma homenagem se ele estivesse fisicamente vivo.
Afinal, como escritor, ele é imortal. Seus livros e seus textos publicados são a sua sobrevida. A sua permanência física. O eterno relembrar da memória. E qualquer referência, de agora em diante, a Seu Olyntho da Silveira, será a continuidade da sua vida. Como imortal, estará sempre vivo nas lembranças dos seus amigos e leitores. E nos corações dos seus amigos e leitores que ele soube, por demais, cultivar.