Obesidade mórbida: os riscos para a saúde e as dificuldades de tratamento

Jornal O Norte
22/07/2005 às 16:20.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:48

Fernanda Aquino Lopes


e Helen Marina Santos

A obesidade mórbida é uma doença que afeta cada vez mais os brasileiros, e suas causas podem ser várias: stress, má qualidade da alimentação, distúrbios hormonais, etc. Em Montes Claros, os dados percentuais desse problema na população ainda não foram coletados pela Secretária Municipal de Saúde. De acordo com o chefe da divisão e coordenação das Unidades Básicas de Saúde, dr. Danilo Narciso, a demanda para atendimentos desses casos é pequena e os tratamentos cirúrgicos devem ser realizados em centro avançados, como Belo Horizonte.

Essa cirurgia não está sendo executada pelo SUS em Montes Claros; os casos são encaminhados para a capital. Já em BH, as informações são de que as operações foram interrompidas pela falta de verbas. Quando há verbas, é difícil encontrar uma equipe disposta a realizar o procedimento, pois o custo é muito alto e o valor repassado pelo governo aos médicos é inferior: a quantia paga pelo SUS, ao hospital, é de R$ 1.464, 62 – desse total, apenas R$ 333, 77 são divididos entre o cirurgião, o anestesista e o assistente.

Danilo Narciso diz que é a cirurgia é demorada, minuciosa e de risco; após o procedimento, o paciente precisa ficar na UTI por alguns dias – além de se submeter a outras pequenas cirurgias para redução do excesso de pele (que também são custeadas pelo SUS). “Quem tem o problema realmente passa por um grande sofrimento”, comenta Narciso.

A dona de casa Flávia Simone Ramos, 32 anos, pesa 150 quilos e sofre com a obesidade desde os 18 anos, quando começou a ganhar peso descontroladamente. Flávia afirma que atualmente não tem um médico responsável pelo tratamento, mas já esteve em vários endocrinologistas e os diagnósticos afirmam que o excesso de peso não está associado a distúrbio hormonal, pois seu ciclo menstrual sempre foi regular. Os exames constataram que ela possui uma enzima produzida pelo organismo em momentos de ansiedade; a enzima é absorvida pelo estômago e o corpo ganha gordura mesmo que não se alimente excessivamente.

A dificuldade financeira agrava ainda mais o problema. Não tendo condições de pagar por serviços médicos, acompanhamento de dietas, exercícios físicos especializados e orientados, e até mesmo adquirir alimentos adequados, Flávia desabafa: “Como o que tiver!”. Ela está desempregada e mora na casa da sogra com o marido, que trabalha “fazendo bicos”, e a filha de dez anos.

Flávia fez o cadastro na fila de espera para cirurgia há um ano; na época estava em centésimo trigésimo lugar. Ela já voltou a Santa Casa de Belo Horizonte, onde é feita a operação, algumas vezes, mas não teve o atendimento marcado porque, segundo informaram, os procedimentos tinham sido interrompidos.

A maior dificuldade para a dona de casa é a locomoção. Existem obstáculos para usar o transporte coletivo na cidade: além de não conseguir passar pela roleta, ela comenta que a porta da frente é muito estreita e o degrau de acesso do ônibus é muito alto – e os bancos internos são apertados. Nas ruas, as calçadas e escadas não são projetadas para pessoas obesas. Em casa, Flávia tem dificuldade para se deitar, levantar e realizar tarefas domésticas, já que as dores no corpo todo a incomodam – além dos tornozelos e joelhos sobrecarregados, a coluna está sendo comprometida.

Flávia declara que já procurou vários hospitais, instituições públicas e privadas, autoridades – mesmo assim, o seu problema não foi sequer ouvido com atenção. Esse “descaso” acarreta sofrimento e a sensação de discriminação por parte das pessoas. O que ela quer é uma solução para a sua doença, pois uma cidade do porte de montes Claros precisa dar atenção às enfermidades (de todo tipo e grau) que acometem sua população.




Este texto faz parte da página produzida pelos acadêmicos do curso de Jornalismo do CRECIH/Funorte


Editores: Ana Gabriela Ribeiro e Elpidio Rocha


Coordenador do curso: Ailton Rocha Araújo


Coordenadora de produção: Tatiana Murta

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