Dário Teixeira Cotrim
Presidente do Instituto Histórico e Geográfico
Muitas das nossas cidades no Norte de Minas tiveram a sua origem de um ponto de pouso para o descanso das tropas. Normalmente, era nestes pontos de pouso que surgiam os primeiros aglomerados de negociantes (os mascates), criando em algum lugar sombreado, um tablado coberto de palhas que logo depois era transformado num gigantesco barracão-de-feira. Então, o barracão-de-feira trazia pessoas de outras plagas, e em pouco tempo formava ali um pequenino povoado. O tropeiro, sem dúvida, era a figura mais importante da época da colonização. Assim, o tropeiro estabelecia o seu comércio de secos e molhados dentro do barracão-de-feira. Com o comércio em ascensão criava-se de imediato uma Casa de Oração, que depois os fies transformava-a numa Capela. Essa capela sempre tinha como padroeira o santo de devoção de um habitante importe do lugar, ou, então, a data festiva mais popular da religiosidade do povo. O pouso dos tropeiros de Povoado passava-se a Vila, em virtude do Mercado, da Igreja, da Cadeia e do Cartório Civil.
Montes Claros da Formigas em nada foi diferente dos demais povoados brasileiros. Quando ainda era a Vila de Formigas, ela já tinha o seu mercado e uma feira livre que agregavam pessoas de vários lugares do Norte de Minas. Entretanto, só no ano de 1899, no dia três de setembro, é que foi inaugurado, oficialmente, o primeiro Mercado Municipal de Montes Claros. Por ser uma construção de importância inquestionável, estiveram presentes no dia de sua inauguração as seguintes autoridades: Simeão Ribeiro dos Santos, presidente da Câmara de Vereadores e Agente Executivo do Município; doutor Antônio Augusto Veloso que foi convidado para ser o padrinho da obra e o padre Lúcio Antunes de Souza, que era o vigário de freguesia de Montes Claros, este abençoou as instalações recém construídas. Numa linda crônica de Ruth Tupinambá Graça, nós podemos visualizar o mercado da seguinte maneira: “Os bruaqueiros, com enorme variedade de mercadorias, iam com suas mercadorias, chegando desde a madrugada e enchendo o mercado”.
Sabe-se que a construção do Mercado Municipal, na parte alta da cidade, não teve o apoio unânime da população. Em conseqüência dessa situação, contam as más línguas que ele trouxe muitos aborrecimentos para os moradores da parte baixa da cidade. Nesse sentido, o historiador doutor Hermes de Paula registrou em seu magnífico livro “Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes” o desabafo do velho comerciante Silvio Teixeira, quando ocorreu o desmoronado da parte esquerda da construção. Disse o Silvio naquela oportunidade: “– Que formidável! Coisa boa!”.
Infelizmente, o velho Mercado Municipal de Montes Claros foi demolido na gestão do prefeito Antônio Lafetá Rabello, isso no ano de 1970, quando o mesmo construiu um novo Mercado de Montes Claros nas proximidades da Praça de Esportes. Parece-nos desnecessário ressaltar, mas foi um duro golpe para a memória da cidade de Montes Claros. Com a posse do prefeito, doutor Luiz Tadeu Leite, em 1983, o Mercado Municipal da Praça de Esportes foi desativado para ocupar as novas instalações na Avenida Sanitária. Hoje, o mercado de Montes Claros está na parte baixa da cidade como tanto queria o saudoso comerciante Silvio Teixeira.
Um pequeno retrospecto histórico sobre as construções dos velhos mercados de Montes Claros nos seria de grande utilidade. Quem sabe, assim, o povo possa entender a infelicidade de “Rabello” na demolição do velho mercado e, do “Athayde”, o menoscabar da história de Montes Claros na construção do Shopping Popular.