Era um domingo azul numa cidade de céu cinza. Meu amigo me convidou para um passeio no parque. E a cena, logo na chegada, foi impressionante. O trânsito simplesmente não se mexia. Fila de carros e de gente ansiosa por um pouco de sol. Muito tempo depois, quando surgiu a vaga, a multidão se espremia no gramado. No ar, uma alegria coletiva, contagiante e rara. Foi inevitável pensar no quanto se valoriza aquilo que praticamente não se tem.
Nas cidades em que nuvens são preguiçosas e demoram a aparecer, as pessoas também não se sentem na obrigação de aproveitar aquele dia como se fosse mágico. É como quem mora na praia e passa meses sem entrar no mar. Eu, que sempre me escondi entre montanhas, achava difícil entender esse desperdício até pouco tempo atrás, quando fiquei uma semana inteira ouvindo o barulho das ondas.
No primeiro dia, sono perfeito! Era uma delícia acordar, dar alguns passos, sentir aquele cheiro de natureza e me refrescar naquela água. Aproveitei bastante e voltei descansada. Mas foi só na primeira noite, já na minha casa, que eu entendi. Depois de tantos dias dormindo com o mar, o silêncio do meu quarto nunca me pareceu tão acolhedor.
Mas por que será que a gente precisa tanto do diferente pra gostar do que está ao alcance das mãos? Por que achar que sempre há tempo para o que já parece garantido e conquistado? Pra que aproveitar o hoje se amanhã a gente tem uma nova chance? Perguntas que enchem nossa cabeça e esvaziam nossos desejos.
E assim pode ser nos relacionamentos. Depois da novidade, da fantasia, as histórias ganham outros contornos e é aí que pode vir aquela sensação morna de que algo não vai bem. Anos de convívio e a pessoa que se mostrava tão cheia de novidades já não nos surpreende. É nesses momentos que o mar pode parecer mais atraente pra quem vive longe dele. É uma quebra, uma vontade de respirar, de fugir do que virou rotina.
A ironia é que, com o tempo, o diferente também vira igual. Uma amiga de alma inquieta mudou de cidade várias vezes, pensando que o melhor estaria esperando por ela em outro lugar. Não adiantou. A gente sai de casa e até do país, mas carrega a insatisfação ou a alegria na bagagem. Ou aceitamos isso ou vamos fugir o tempo todo da vida. Se, por um lado, a rotina é altamente entediante, por outro, também é saudável.
O problema é imaginar que as coisas e as pessoas vão estar por aí, à disposição, no dia em que a gente se sentir pronta. Acreditamos nisso até o instante em que o inesperado dá uma sacudida no que parecia estar tão nos eixos. Nessas horas, ingênuos, questionamos por que não fomos avisados. Não! Os sinais estavam lá e foram ignorados.
A gente acha que tem todo o tempo do mundo e que não faz mal adiar mais um pouquinho. Só as grandes perdas é que mostram que não é bem assim... Até aprender a ser feliz do jeito que é possível, busca-se algo surpreendente. A gente anda, corre, passeia pelo mundo, insiste na procura e só volta se o que ficou pra trás continuar a fazer sentido, como aquele quarto aconchegante e silencioso que me recebeu no retorno da viagem.