Dom José Alberto Moura
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Na convivência humana, a relação da pessoa com os outros pode ter conotação de maior priorização de si ou do outro, conforme a educação da personalidade. Nossa tendência é a maior absolutização do próprio eu, muitas vezes em detrimento do outro. No entanto, esse quadro pode se reverter, de acordo com a busca de valores e propostas baseados num conteúdo enriquecedor do bem percebido. Vemos, assim, a figura do rei dentro do próprio eu ou do rei que transcende a subjetividade e dá segurança objetiva e subjetiva à pessoa.
Os governos das nações têm configuração mais ou menos democrática, com acertos ou não, de benefício ou desvantagem para os povos governados. Um tipo de governo é a monarquia, tendo o rei como supremo mandatário. Mas, comparativamente, atribuímos ao maior beneficiador, orientador de nossa vida, o próprio Deus. No seu Filho, Jesus, Ele mostra o valor da incansável busca de sentido e realização à vida humana. Em contraste com a busca desenfreada de realização colocada no que é material, sensível e prazeroso no transitório da vida terrena, Ele apresenta os valores de seu reino, baseados no amor a Ele e ao semelhante.
Para isso, a pessoa humana tem de fazer verdadeira ascese ou exercitação de doação constante de si para colaborar com o bem do semelhante, fazer da vida presente uma convivência harmoniosa, justa e solidária. O resultado já se obtém aqui e hipoteca benefício incomensurável para a vida eterna. Ao contrário, nenhum nem outro acontecem de modo satisfatório. Jesus tem o poder próprio de Deus: “Seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá” (Daniel 7, 14).
Através do batismo, somos também apoderados pelo Filho de Deus com talentos que nos tornam capazes de trabalharmos juntos, no mútuo auxílio, para fazermos o reino acontecer para o benefício de todos. Por isso, em todos os meios, situações, profissões e realidades, devem ser veiculados os valores do reino de Deus: na família, no trabalho, na mídia, na economia, na escola, na técnica, na política, na religião... Se o reino for enfocado sem a dimensão altruísta de Deus, vai dominar o egocentrismo, destruidor de convivência justa e fraterna.
Quem se pauta pelas coordenadas de Cristo pode ser tido como retrógrado, não atualizado ou afinado com as regras do mercado e do impulso instintivo de quem se deixa conduzir pela falta de ética, de respeito à dignidade da vida, da família e de valores transcendentes. As pessoas que se conduzem na busca de altivez moral enfrentam as barreiras do egoísmo humano e constroem história de valor para todos.
O egoísmo passa e o reino da dignidade humana dá o perfil realizador da pessoa, que vive com a grandeza do domínio do amor, fundamentado nos valores do governo do Criador.
Jesus, questionado por Pilatos, fala: “Tu o dizes: eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (João 18, 37).
No seguimento do Mestre, não poucos se tornam fermento e luz no convívio com os outros. São incansáveis em fazer da vida uma contínua busca de sentido e colaboração com a promoção da dignidade humana. Unem a fé com a prática do serviço aos outros. Influem na política em vista de seu real serviço ao bem comum. Formam família com os ditames da razão iluminada pela fé. Não se cansam de se unirem a causas de benefício aos mais necessitados.