Jorge Silveira


Jornalista

Na entrevista que concedeu à revista Tempo (edição de junho), o prefeito Athos Avelino deixa a imprensa da cidade em posição altamente constrangedora. Nas palavras do prefeito, a independência e a opinião dos órgãos de imprensa da cidade variam de acordo com o que a prefeitura investe em publicidade. Ele vai mais adiante: afirma que a imprensa critica sem motivo para aumentar o faturamento.

Transcrição do que disse o prefeito à revista: os veículos de comunicação, claro que toda regra tem exceção, tratam melhor ou pior, na medida da quantidade de recursos que você aplica nas divulgações e publicações. O veículo começa a bater sem motivo e a gente pergunta: - o que está acontecendo? – O que está acontecendo é que está se investindo pouco, aplicando pouco, a fatura está pequena...

Mais adiante, o prefeito acrescenta: Nos dois primeiros anos, nós tivemos muita dificuldade financeira. Primeiro saneamos os problemas e só depois tivemos condições de investir em publicidade. Os veículos estiveram insatisfeitos e bateram muito na administração. Vencida esta primeira fase (de baixos investimentos em publicidade), eu percebi que a relação com a grande maioria dos veículos tornou-se uma relação institucional saudável e positiva.

Trocando em miúdos: se hoje a avaliação do prefeito e de sua administração é positiva por parte da mídia, dê-se o crédito ao volume de recursos que a prefeitura está investindo em publicidade. Ou seja: a prefeitura comprou a independência e a opinião da imprensa de Montes Claros. Para haver uma relação institucional saudável e positiva, foi necessário primeiro abrir os cofres da municipalidade. Isto o prefeito deixou bem claro em sua entrevista, sem meias palavras.

Mais ainda: Athos confessou que a prefeitura mantém um quadro de 30 jornalistas contratados. Não disse se todo este pessoal trabalha ou não. Disse apenas que antes dele assumir eram 50 os jornalistas contratados e que agora são 30. Como ele registra que houve uma mudança qualitativa na Ascom, supõe-se que foram dispensados os menos qualificados, mantendo-se aqueles considerados de nível melhor. Ou então, aqueles mais engajados. Seja lá o que ele considere mudança qualitativa, o fato é lamentável sob todos os aspectos. Mais lamentável ainda é o prefeito considerar esta uma relação institucional saudável e positiva. Pode ser tudo, menos saudável ou positiva.

Segundo ainda o prefeito, esta relação de alto nível só não existe com a Rádio Terra e o jornal O NORTE, que tratam a administração de forma caluniosa e injuriosa. E a explicação dele para tal comportamento é política, já que os dois veículos pertencem a pré-candidatos a prefeito. Ou seja, na imprensa de Montes Claros não se salva ninguém. Quem é a favor, só ficou nesta posição depois que o faturamento aumentou; quem é contra, só o é pelo fato de ser adversário político. Uma equação realmente desastrosa para a população em geral, que convive assim com uma imprensa que não merece crédito, seja a favor ou contra a administração municipal. Que fique bem claro: isto é o que se pode deduzir do que foi dito pelo prefeito. Está lá na revista Tempo para quem quiser ler!

Depois da entrevista do prefeito, sentimo-nos na obrigação de dizer aos nossos leitores que não somos contratados pela prefeitura, nunca reclamamos que a fatura está pequena (até porque nossa opinião não tem preço) e nem tampouco somos pré-candidatos a nenhum cargo eletivo, muito menos a prefeito. Continuamos totalmente independentes e nossa opinião permanece isenta e de acordo apenas com a nossa consciência. Não fazemos parte dos 30 e nem fizemos da outra dos 50.

E como não temos o rabo preso, fica aqui nossa opinião sobre o caso: ou o prefeito não está preparado para o cargo e por isso dá uma entrevista daquele teor, ou então é a imprensa de Montes Claros que está muito despreparada (para não dizer coisa pior), com muito jornalista desmerecendo a profissão. É bom para que o leitor faça sua análise e saiba em quem e no quê acreditar.