O poético Psiu

Jornal O Norte
Publicado em 20/10/2008 às 10:32.Atualizado em 15/11/2021 às 07:47.

Márcio Adriano Moraes


Escritor e professor de Literatura e Língua Portuguesa


 


É Montes Claros! É... cultura boa que transborda o balde... É Montes Claros! É... do mestre Zanza, Grupo Agreste, Um Meia Zero, Pedro Boi, Bruno e Fabiana, e do Ruído Jack.



Assim cantamos durante nove dias com o Ruído Jack, mais precisamente de quatro a doze de outubro, no XXII Salão nacional de poesia Psiu Poético. Em um ano que tive a graça de ser um dos seis poetas homenageados, ao lado da minha querida conterrânea Marli Froes, minha sempre professora; Bruno Brum, jovem escritor belo-horizontino, amigo único do poeta, crítico e ensaísta polonês, radicado no Brasil nos anos 70, Wladimir Poniatowfky; Jussara Salazar, encantadora artista plástica, elástica e poética; Luís Turiba, que aqui trocou o panamá por um singelo boné; e Chacal, que apesar de não ter vindo ao salão esteve presente com seus poemas marginais.



Apesar das complicações políticas, dos poucos mas valiosos patrocínios e incentivos, o salão encheu mais uma vez a Princesa do Norte de poesias e artistas de todos os cantos do país. Um momento singular para compartilhar pensamentos e vislumbrar novos horizontes, sobretudo, no que diz respeito à arte literária.



Senti falta da presença da imprensa escrita e televisiva que em anos anteriores mostravam-se mais fortes e interessadas no evento. Mas ela esteve lá, sim, registrando pontos e entrevistando participantes. Compreendo, porém, que as circunstâncias eleitorais causaram empecilhos para uma maior propagação e cobertura do evento. O que não prejudicou o empenho dos poetas que, mesmo com um despertar não tão poético, mostraram a razão de serem poetas, de serem humanos.



Deste Psiu, tão significativo para mim, eu teria muitos versos a serem traçados aqui, mas como o espaço não branco deste papel não é o dos concretistas, restrinjo-me a registrar algumas cenas e personalidades.



Susto foi quando vi que o Mané do Café também usava roupas normais. É difícil vê-lo sem seu clássico smoking, apesar do calor escaldante montes-clarense. O Guilherme Rodrigues com sua inseparável mochila de costas, um termo integrante de suas orações poéticas. Planos para dominar o mundo? Deixemos isso com o Cérebro. A Thelma Scherer correndo o palco em um monólogo da criação do mundo; cheguei a ficar tonto e vendo o globo girar em sua rotação irregular. O Rogério e a Virgilene com suas pizzas, mais salgadas que doces. A Jussara no debate ainda descendo do avião; o Turiba com as redondilhas maiores do tô ficando atoladinha; e a Marli com seu garotão amadorista que me deixou sem o chapéu.



O Mavot Sirc, Pink Floyd na veia, trouxe seus herdeiros poéticos, a Bruna e o Tadeu que brincaram de poesia. A Odila com seu Soldado Careca ofereceu às crianças da rodoviária mais um encantamento da literatura infanto-juvenil. O berrante do Jason de Moraes acompanhado com continências. O Olímpio mostrando que no Brejo não tem só almas, mas também poetas. Seu Baltazar com seus 90 anos provando ao Deomídio Macedo que ainda dança um bundalelê.



No campo jurídico, o Fábio Carvalho mostrou que a nossa constituição deve ser substituída por uma mais humana. O Wagner Torres não economizou sua garganta ao declamar poemas no Poesia circular. E muitas outras peripécias e encantamentos tivemos no Psiu deste ano. A Maria Iede Nunes Costa Zuba, mesmo com dificuldades de saúde, chegou nos últimos dias e encheu de areias cristalinas o nosso Castelo de amor.



Senti falta da minha querida Dóris e do companheiro Cotrim; desencontramo-nos. Ah, já ia me esquecendo do Mautner com seu violino e o Jacobina com seu violão exótico, que fecharam o Psiu com chave de diamante. Engraçado, não vi o Aroldo chorando no final, estranho... mas ele chorou no decorrer do salão. E o Renilson, doidão com seu colete, retomando o XII, o XXI Salão, poeta é assim confúncio.



O Psiu acabou, mas começou no coração de muita gente a inquietação poética da vida. A cada ano, neste instante de outubro, percebemos a magnitude das artes. E com esse olhar descobrimos que, mesmo com os percalços da vida, vale a pena vivê-la e amá-la, ainda que  esse amor seja unilateral. Afinal, a poesia não é santa, e quando morta revive a pessoa que se ama [...]. Ser poeta é ser um condor que voa e cava, que diz tudo ou nada, apenas com uma palavra - Márcio Moraes.

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