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Sábado,20 de Dezembro

O poder mágico da escrita

Por Manoel Hygino

Jornal O Norte
Publicado em 22/09/2014 às 23:33.Atualizado em 15/11/2021 às 16:37.

Manoel Hygino

Ronaldo Cagiano, conceituado escritor nascido na gloriosa Cataguases, dizia outro dia, ao analisar um livro de um jovem autor: “Literatura, em síntese, é trabalho de linguagem, de depuração, de cuidado e burilamento”. Assim é, e cita o professor e crítico Amador Ribeiro Neto, enfatizando o valor da linguagem e se reportando a Jakobson: “A poesia é linguagem em função estética. Deste modo, o objeto do estudo literário não é a literatura, mas a literariedade, isto é, aquilo que torna determinada obra uma obra literária”.

Esse comentário cabe bem ao ler “O primeiro voo”, de Dóris Araújo, recentemente lançado pela editora Catrumano. É prosa, mas é poesia; é conto, mas também crônica; é ficção, mas também realidade. A realidade bela e idealizada que comunga conosco o cotidiano, embora não a percebamos, colhidos pelos compromissos, rudezas e até crueldade do meio e da época que vivemos.

É um livro infantil e para a adolescência? Se assim for, que bom! Porque o que se tem em “O primeiro voo” é agradável, bonito, a linguagem é própria para sensibilizar os que estão nessa faixa etária, mas também toca o coração dos que já avançam para outras etapas da vida.

Segundo o escritor Dário Teixeira Cotrim, que redigiu a última capa, há ali “a imaginação inventiva, cuidado pedagógico e o texto gramaticalmente e literalmente composto”, capaz de bem servir a infantes, adultos e idosos.

É um livro de 60 páginas, mas com milhares em termos de imaginação e criatividade, em castiço idioma, de até dar inveja a muitos que publicam entre nós, mas sequer sabem colocar o correspondente pronome na frase.

Petrônio Braz, que faz o prefácio, observa que Dóris, ao ingressar no campo da ficção (ou será realidade?) produz “uma relação poética, misto de realismo, mitologia, religião e história infantojuvenil. Algo de Macunaíma pós-modernismo”.

Em resumo, Dóris criou um universo mágico para nele viver e se realizar, evidentemente convidando os leitores a participar de suas aventuras, que incluem as ilustrações da autora. Da menina de olhar travesso da segunda orelha do livro e da que sorri da vida ou para a vida, na última capa, mais embelezando o texto onírico.

Zuquis, a personagem, é também como a personificação da escritora, também representada pela mascate que “chegou à vida, oferecendo de um tudo. Vendendo coisas e milagres. Remédios em forma de cápsulas coloridas e atraentes, prometendo a cura para todos os males”. Em alvoroço, homens e mulheres acotovelavam-se, disputando entre si o melhor lugar na praça, o melhor espaço, o melhor ângulo de visão”.

Da mala do mercador, ao ritmo do som de sua minúscula flauta, saíam esvoaçantes tecidos, ondulantes correntes, voleantes fitas... “e, quem sabe? Um exemplar de ‘O primeiro voo’”. Dele, surgem à luz bonecas de fina porcelana. Tesouro escondido de olhares piratas”, como os da autora, criança, toda vestida de branco, sapatos idem, bolsa no braço direito, com olhar perscrutador do futuro.

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