José Prates
“No Bairro Mangues, denúncia anônima informou que uma mulher vendia drogas nas ruas da região. Os policiais foram ao local e na casa da suspeita Joseane Soares Fonseca, 31 anos, foram encontrados 19 papelotes de cocaína, 80 pedras de crack, 56 buchas de maconha, um tablete de maconha pesando 75 gramas e R$ 87.”
Esta notícia publicada aqui no O NORTE DE MINAS, sem alarde, como coisa normal no dia a dia da polícia, em tudo é igual às noticias sobre fato igual, publicadas nos jornais de qualquer grande centro, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, significando que o tráfico de drogas aqui não é novidade.
Essa peste alastrou-se país a fora, procurando alojamento nos centros desenvolvidos, onde o poder aquisitivo lhe possa garantir sucesso financeiro. O Ministro Tarso Genro comentando sobre a FARC da Colômbia, disse que o tráfico de drogas que se avoluma agora com envolvimento dessa organização, é uma ameaça à segurança da America Latina. Esse tráfico que se avoluma, crescendo a cada dia graças ao consumidor e principalmente à impotencialidade dos órgãos repressores, não é uma ameaça à America Latina como continente, mas, à segurança do cidadão que vive e trabalha nos grandes centros.
A violência que se tornou rotineira nesses lugares, chegando ao cúmulo de banalizar a vida humana, vem do crime organizado que não sofre a repressão adequada, onde quer que ele se instale. Essas organizações criminosas têm uma estrutura apoiada na pobreza e abandono do favelado; dos pobres desassistidos que pululam pelas ruas das grandes cidades e de uma juventude desgarrada que fugiu da escola para ingressar no crime, atraída pelo dinheiro fácil.
É aí que o tráfico se instala e adquire capacidade de oferecer resistência ao combate que a sociedade organizada lhe faz. Voa em torno do desenvolvimento econômico, como a mariposa voa em torno da luz. Hoje, pode-se dizer que a presença do tráfico em qualquer lugar é sinal de crescimento do poder aquisitivo do habitante, resultado do desenvolvimento econômico desse lugar e Montes Claros não é exceção.
A maneira como os traficantes se instalam no lugar, vem de muito tempo, com pequenos aperfeiçoamentos, mas, principalmente, procurando os locais de baixa renda onde podem angariar o apoio da população carente com a prestação de auxilio. Isto aconteceu no Rio de Janeiro na década de oitenta. Naquela época, a droga chegou à favela carioca trazida pelo “malandro” do morro, que assumiu o comando do ponto que foi batizado de “boca de fumo” e ai ficou organizando-se para se alastrar. Teve o cuidado de afastar-se de qualquer outro tipo de delito para não atrair a policia e desestabilizar o ponto.
No princípio de sua implantação, o traficante apresentava-se ao favelado como um Robin Hood capaz de satisfazer-lhe as necessidades, ocupando o espaço vazio deixado pelo Estado. Ao passo que crescia o comercio, foi-se firmando a organização com regras e leis próprias dentro da comunidade, criando um poder paralelo que ainda existe apesar dos esforços dos governos federais e estaduais para combatê-lo.
Agora no Rio de Janeiro, acompanhando o chamado “choque de ordem” implantado pelo Prefeito atual, a polícia tem desenvolvido, também, o seu “choque de ordem” nos morros, o que tem desestabilizado o tráfico em alguns setores, com o sacrifício o sacrifico de algumas vidas, infelizmente jovens.
Fazendo uma pesquisa através de literatura como, também, em depoimentos de traficantes, prestados à policia, como, ainda, em conversa que tivemos com alguns usuários, constatamos que a lógica dos “comandos” que se espalharam por todo o país, instalando-se como uma espécie de filiais nos centros desenvolvidos, estabelece um estado de anomia crescente e depois completo, chegando ao absolutismo.
Criaram em si a certeza da morte ou da prisão até os 25 anos e daí vem a completa banalização da vida e da morte. Desta forma, a eliminação de componentes da quadrilha, nos confrontos com policiais não é surpresa nem causa abatimento. A substituição do morto é imediata, seguindo a escala pré-estabelecida. Isso tornou ainda mais complexa e dificil a repressão. Em qualquer ponto do país em que se instale, o narco-tráfico procura retirar de sua ação o sentido de delito, implantando uma espécie de serviço público para a população carente, que e a torna, aos olhos dessa população, uma obra necessária. Com isso, firmam-se na localidade, sem temor da repressão.
Muitos analistas acham que não existe essa organização, pois pensam organização como um ordenamento em organograma com presidente, diretores… Ou se referem às máfias ou à contravenção. O ordenamento para a sobrevivência criou organizações virtuais, onde cada “gang” em torno de uma boca de fumo, estabelece com as demais relações básicas de não agressão e progressivamente de fornecimento preferencial de drogas e armas.
O que se deve fazer? A resposta é clara e óbvia: O Estado assumir seu papel dentro da comunidade, retomando seu lugar na assistencia social. Isto está dando certo no Rio de Janeiro. As ocupações militarmente, estão sendo feitas sem derramamento de sangue e o morador é assistido com dignidade pelo estado.