O mundo sem ninguém

Jornal O Norte
Publicado em 24/08/2010 às 10:31.Atualizado em 15/11/2021 às 06:36.

Alberto Sena


Jornalista



Se olharmos pelo espelho retrovisor, veremos o quanto o desenvolvimento humano sobre a Terra se deu a qualquer preço, sem planejamento. Daí o mundo inteiro sofrer hoje as consequências da irresponsabilidade em muitos casos e da ignorância em outros tantos momentos. Agora, ao olharmos pelo espelho retrovisor, estamos tomando consciência dos estragos.



Mas não é preciso ir longe para darmos conta do que podem fazer as mãos cheias de dedos dos homens e das mulheres. Desde as décadas de 1970 / 80, quando em intensa atividade na imprensa escrita, vimos chamando a atenção para os sinais de desertificação verificados no Norte e Noroeste de Minas, nas regiões de Montes Claros, Três Marias, Paracatu e João Pinheiro.



Quatro décadas se passaram. Neste agosto de 2010, a mídia nacional e internacional publica manchetes do tipo ‘Desertificação pode aumentar conflitos por terra’, segundo alerta da Organização das Nações Unidas (ONU). Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU, disse que a degradação da terra ‘pode gerar conflitos e aumentar tensões’, além do que acarreta custos sociais cada vez maiores.



Ele fez o alerta em comunicado, por ocasião do lançamento da ‘Década das Nações Unidas para os Desertos e a Luta contra a Desertificação – 2010-2020’.



Outra espiada no espelho retrovisor mostra o quanto temos sido imprevidentes, e em se tratando de algo tão importante, como o ambiente onde vivemos, metemos as mãos, não nos importando as consequências. Mas quando o futuro chegar – e o futuro chegou vemo-nos agora envolvidos pelos reveses do problema, tentamos correr contra o prejuízo.



Um pequeno rol de problemas ambientais causados pela ganância, pela ignorância e pela falta de educação de muitos começa com o mau uso da terra e da água na agropecuária em Minas, para ficar só na abrangência da nossa aldeia. Isto mais a devastação da Mata Atlântica e do Cerrado para alimentar os fornos das siderúrgicas; o excessivo plantio de monoculturas de eucalipto (e outras monoculturas) sem o menor respeito à vocação e a heterogeneidade florestal das regiões.



É difícil de acreditar: nós, seres humanos, ditos racionais, seremos estúpidos até o fim ao ponto de tornarmos a casa onde nós moramos – e até mesmo os principais responsáveis pela degradação do planeta moram – será que seremos estúpidos ao ponto de torná-la imprópria para a vida?



O secretário geral da ONU informa: mais de dois bilhões de pessoas vivem em desertos e terras secas em todo o mundo. A degradação da terra em zonas áridas afeta a 3,6 bilhões de hectares e ameaça a subsistência de mais de um bilhão de pessoas em cerca de cem países.



A humanidade vive diante de uma encruzilhada: ou planeja o desenvolvimento de modo sustentável, entendendo a terra, os ares e as águas dos rios e dos mares como bens preciosos; ou em breve aquele seriado da TV intitulado ‘O mundo sem ninguém’ será uma realidade nua e crua. Mais crua do que menos nua.

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