Felippe Prates
Há 400 anos, Galileu apontou o seu telescópio para o céu e revolucionou a ciência. Uma pequena guinada para o homem, mas um grande salto para a humanidade. Até então, 1609, esse instrumento era usado essencialmente para a navegação. O astrônomo italiano e professor de matemática na Universidade de Pádua, Galileu Galilei (1564/1642), que viveu 78 anos, o que era raro, na época, iniciava uma série de observações que, entre outras coisas, comprovariam a tese de que a Terra gira em torno do Sol. Com isso, ele não apenas mudaria a nossa concepção do Universo, entrando em perigosa rota de colisão com os dogmas da sempre vacilona Igreja Católica, como alteraria profundamente o pensamento humano. No percurso, esse “mensageiro das estrelas”, nome do livro no qual mais tarde descreveria as suas descobertas, lançaria, também, as bases da astronomia moderna. 2009 é o Ano Internacional da Astronomia Galileu Galilei, uma justa homenagem ao grande sábio e ao seu método científico.
- Galileu representa um dos maiores impactos que o conhecimento humano já sofreu, afirma o astrônomo Victor D’Ávila, do Observatório Nacional. Foi dele o passo decisivo para o surgimento da ciência moderna. Ele simplesmente descobriu a chave de como raciocinar de forma científica e objetiva. Os gregos acreditavam que raciocinar era o suficiente, mas Galileu mostrou que era preciso observar, raciocinar, concluir e comprovar. Ainda hoje essas são as bases do método científico.
Até a guinada do telescópio de Galileu, acreditava-se com o apoio e a pressão da Igreja, que o Sol, os planetas e as estrelas giravam em torno da Terra, que, imóvel, seria o centro do Universo. O clérigo polonês Copérnico já havia contestado essa visão geocêntrica do Universo em 1534, mas não havia conseguido provar sua tese de um Universo heliocêntrico. Pensava-se, também, como Aristóteles e seus seguidores, que a Lua era perfeita, completamente plana, bem como os demais corpos celestes. Ao se apropriar de um instrumento construido na Holanda e modificá-lo, tornando o telescópio até 32 vezes mais potente, Galileu conseguiu dar bases científicas para a tese heliocêntrica de Copérnico. Mas, graças à intransigência da Igreja Católica que, segundo a História Universal, desde sua fundação até hoje sempre foi a pedra no sapato, o maior obstáculo para o progresso da ciência, se valendo, há séculos, da ignorância e da prepotência para semeadouro de suas teses e dogmas, na sua maioria ridicularizadas, desmoralizadas e ultrapassadas, Galileu foi condenado pela Inquisição por heresia em 1616 privadamente, e em 1633 num “julgamento” público. Para salvar a própria pele, Galileu teve que se retratar. Consta, que ao se afastar da mesa em que assinara a sua retratação, teria dito:
- Mas que ela gira, gira.
O que garante o sucesso do cientista é o fato de usar o melhor instrumento para obter os melhores dados, fundamentar teoricamente as suas observações e publicar seus resultados. Aproveitando as comemorações pelos 400 anos das primeiras observações de Galileu, cogita-se em exumar o corpo do astrônomo, enterrado em Florença, Itália, para estudar o seu DNA. Pretendem descobrir como Galileu conseguiu avançar em suas pesquisas convivendo com uma doença degenerativa que o deixou cego. Galileu não inventou o telescópio, mas foi o primeiro a observar o céu com constância e exatidão. Para isso, ele fixava o telescópio em uma mesma posição durante longos períodos e mesmo sem nunca ter visto o telescópio de seu inventor, o holandês Hans Lippershey, ele fez o seu próprio aparelho. Depois, construiu outro, mais potente. Em 1610 publicou as suas descobertas num livro de nome “Siderius Nuncius”, cuja tradução literal é “O Mensageiro das Estrelas”.
Feitos de Galileu - Apesar da visão deficiente e do telescópio rudimentar, Galileu fez, revelou e publicou observações fundamentais. Quais sejam: 1. Lua – Em 1609 observou que após a Lua Nova, a linha entre a área clara e a escura apresentava irregularidades. Na Lua em Quarto Crescente, viu sombras na área iluminada, que diminuíam à medida que os raios solares incidiam sobre a superfície. Concluiu que o satélite tem relevo acidentado, fazendo cair o mito aristotélico de uma lua absolutamente plana. Ainda calculou com incrível precisão a altura dos montes. 2. Vênus – Em julho de 1610, Galileu verificou que Vênus apresenta fases como a Lua, tornando falso o sistema geocêntrico de Ptolomeu, e provando que Vênus orbita o Sol. Concluiu, também, que os planetas não têm luminosidade própria, pois Vênus só brilhava quando iluminado pelo Sol. Júpiter – Galileu descobriu os 4 principais satélites de Júpiter (Ganimede, Europa, Io e Calisto, conhecidos como luas galilenianas). A descoberta revelou que um corpo celeste poderia ser orbitado por outro, derrubando mais um conceito de Ptolomeu. Também reforçou o heliocentrismo. Via Láctea – Descobriu que era constituída por uma infinidade de estrelas. Saturno – Galileu observou que o planeta tinha uma forma diferente, mas não conseguiu distinguir os anéis. Sol – Ele observou manchas na superfície do Sol. Também fez estudos sobre a rotação solar.
Referência: Observatório Nacional do Rio de Janeiro.
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