Maria do Carmo Veloso Durães (*)
O medo é um sentimento comum a todos os seres do universo. É o sentimento que une os racionais e os irracionais e, entre os humanos, os ricos e os pobres.
O pequeno tem medo do grande pela sua força e poder, o grande tem medo do pequeno pela sua astúcia e agilidade, assim a paz e o respeito se estabelecem pelo medo mútuo.
Para os humanos, vários níveis de medo, antigos e modernos, que se convivem no dia a dia, entre eles: medo de fantasma, de assombração, de almas do outro mundo; medo do inferno, da maldição, do demônio, do satanás; medo das pragas e dos feitiços; medo do encosto e do exorcismo; medo do ateísmo e do castigo de Deus; medo do fim do mundo; medo de asteróides e da colisão; medo de outros planetas, do cometa, dos astros, do relâmpago e do trovão; medo da destruição, da ruína, da perda humana e material; medo da água, do fogo, da terra, do ar; medo dos fenômenos da natureza; medo do campo; da selva, da cidade, dos logradouros; medo do frio, do calor, da seca, da enchente; medo da fome e do alimento; medo da magreza, da gordura e da balança; medo da verdade, da mentira, da injustiça; medo das desigualdades sociais e da rejeição; medo da repressão, da discriminação, do abandono; medo da velhice e da juventude; medo das drogas, do fumo, do álcool e da embriaguez; medo da tolice, da ignorância e da estupidez; medo da covardia, da valentia, das gangues, das brigas e dos assaltos; medo da noite, do dia, do claro, do escuro, do desconhecido, do invisível, do inexplicável; medo do ladrão, do assassino, do traficante e de outros bandidos; medo da justiça, do julgamento e da cadeia; medo da polícia, do chefe, do patrão, do diretor; medo da repreensão, do fracasso, da reprovação e do desemprego; medo da pobreza, da miséria, da falência; medo da inflação, dos juros altos e da recessão; medo das contas e dos prazos; medo de não dar conta, de não ter tempo; medo da doença, da morte e da vida; medo do acidente, do sequestro, da guerra, das armas químicas e nucleares; medo de viajar e de ficar; medo do navio, do carro, do trem, do avião; medo da ponte, da estrada, do caminho, do trânsito; medo da multa, da lei e da ausência de lei; medo do comunismo, do capitalismo e do anarquismo; medo do controle e do liberalismo; medo da política, dos corruptos, da ditadura, do sistema; medo da espionagem, principalmente política e industrial; medo da mídia, da censura e da propaganda enganosa; medo dos hackers, do spam, do vírus e outros vírus; medo dos protozoários, bactérias, bacilos e alguns fungos; medo de altura e de lugares abafados; medo das bifurcações e das escolhas; medo da crítica; medo dos enganos; medo da loucura, dos neuróticos e dos esquizofrênicos; medo da depressão; medo de amar; medo da ilusão, do desamor, da traição e da decepção; medo da sorte, do destino; medo de jogar e de perder; medo da incoerência, da dúvida, da incerteza e das encruzilhadas; medo dos desequilíbrios, das quedas e das fraquezas; medo do inimigo, do falso e do dissimulado; medo de perder ou não fazer amigos; medo da multidão e da solidão; medo dos humanos e dos outros animais... E, se a ciência continuar avançando e confirmarem outras ficções científicas, no futuro, os humanos ainda terão medo de clones, andróides e extraterrestres...
Enfim, medo de ter medo, medo do medo. O medo implica coação, instrumento de dominação, mas, de certa forma, pode ser também um mecanismo de controle, quando impõe limites ao indivíduo, ao mesmo tempo, um instrumento que, às vezes, até protege a vida e pacifica a sociedade, mas medo é sempre medo.
Maldito medo que coage os seres! Bendito medo, enquanto equilíbrio do Universo!
(*) Escritora - mariav@net.em.com.br
