O mea culpa de Bento XVI

Jornal O Norte
Publicado em 18/05/2010 às 10:37.Atualizado em 15/11/2021 às 06:29.

Felippe Prates



Em viagem a Portugal, o Papa Bento XVI fez o que está sendo considerado até agora, o seu mais forte pronunciamento sobre os recentes casos de pedofilia, ou seja, o abuso sexual de padres e bispos do mundo inteiro de crianças e adolescentes, e também de seminarsitas, que levaram a Igreja Católica a uma situação quase inédita de desmoralização, angústia e desprestígio.  O Sumo Pontífice reconheceu que “a maior ameaça à Igreja vem dos pecados de dentro da própria Igreja”.   E enfatizou:  “É realmente aterrorizante o que a Igreja sofre com os ataques que vêm do seu interior, com o pecado que existe dentro da própria Igreja”.



Essas declarações servem de contraponto a comentários infelizes feitos por outros dignitários da Igreja, fugindo do caminho fácil que é apontar a existência de uma campanha publicitária contra a Igreja de Roma.



Aprofundando o “mea culpa”, o Papa diz que a Igreja “precisa reapreender a penitência, aceitar a purific ação, aprender o perdão, mas também a justiça”.  Esse comentário é dirigido aos que, omissos e cinicamente, sugeriram em diversos casos de pedofilia que “melhor seria  não fazer muito escândalo porque Jesus Cristo manda perdoar os pecadores”.  O resultado disso é que também pela preocupação de preservar a imagem da Igreja, situações abomináveis foram sendo empurradas para debaixo do tapete.  É esse caso que o Papa, corajosa e dignamente pretende exorcismar com a suas últimas declarações pois, diz ele “É importante que uma instituição como a Igreja Católica, que figura na medula da história e da cultura do Ocidente, se disponha ao que chamamos de penitência.”  Ao lado dessa atitude, que faz parte do repertório básico da consciência cristã, mudanças de outro gênero também são necessárias para que a Igreja não corra o risco de se tornar simplesmente irrelevante.  Os americanos, com a sua natureza pragmática, estão achando, pela voz de alguns comentaristas, que parte dessa sucessão de escândalos tem a ver com o que eles chamam de “bad management” (má administração).  A Igreja, ao longo dos séculos, tornou-se uma organização vastíssima  –  o que alguém chamou de “a primeira multinacional”.  Mas, o seu estilo de administração adotado pela Santa Sé, no Vaticano, lembra uma paróquia italiana, pois a centralização excessiva e a visão paroquial, simplesmente ridicula, fazem que tudo se encaminhe para Roma, sendo julgado baseado em critérios que já não satisfazem à consciência moderna.



Bento XVI foi antecedido por um Papa que não gostava do dia a dia da administração e que confiou tarefas demais à famosa Cúria romana.  Governos muito longos criam os seus próprios problemas e o período de João Paulo II, o “Papa polonês”,  popular e tão querido pelos milhões de fieis ligados ao catolicismo, além de longuíssimo ainda foi afetado pela impiedosa doença que o vitimou.



Bento XVI também não é um administrador nato.  Em vez de suceder a João Paulo II, é sabido que ele preferiria ter ficado com os seus livros de teologia, terreno em que é considerado mestre.



Na verdade, a idade elevada dos que governam o Vaticano, pode ser outra causa da lentidão no tratamento de questões graves.



E assim se acumulam problemas que agora clamam por solução.



Referência:  Jornal “O Globo”.



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