Maurício Veloso Queiroz *
A visita do papa acontece em um momento estratégico para o catolicismo no Brasil.
Enquanto lá, na Europa, os antigos cristãos partiram para religiões orientais, o agnosticismo, ateísmo e até para religiões transplantadas das telas do cinema, de filmes como Harry Potter e Star Wars, o desafio aqui para eles é um pouco diferente.
Em toda a América Latina, principalmente nos centros urbanos, o número de evangélicos aumenta ao passo da diminuição drástica de católicos. Há muito tempo, é esta a única região do globo onde resta uma porcentagem populacional de católicos expressiva. Onde, até mesmo, a religião é ainda oficial.
Nas últimas duas décadas, vem caindo o número de pessoas interessadas em serem padres e a Igreja não acompanhou o surgimento das favelas e periferias. O resultado é o afastamento das populações mais pobres da religião católica, e a multiplicação de igrejas evangélicas entre açougues, mercearias, peixarias e botecos.
Além disso, o Vaticano não aprendeu a lidar com assuntos como a dependência química, sexo, exploração, desigualdade social, violência, educação, pesquisa com células-tronco e a união civil entre homossexuais.
Todavia, infelizmente nem todas as igrejas evangélicas, as chamadas neopentecostais, têm um papel social. Por trás dos altares improvisados, das cadeiras de plástico e das caixas de som expostas no passeio, se operam, quase sempre, quadrilhas especializadas em lavagem de dinheiro ou sonegadores de impostos, envolvidos, não raro, com o tráfico de drogas e jogos de azar que preocupam hoje até a polícia e o governo.
Apesar de toda a euforia causada pela visita, Joseph Ratzinger terá mesmo que se mexer muito para driblar tantos desafios e fazer o que não fizeram seus antecessores: reagir às transformações do mundo urbano-contemporâneo.
Será se o novo papa está realmente disposto? Com toda certeza, vai perder quem apostar que ele vá defender novos valores.
* Acadêmico de Direito na Unimontes