Luiz Carlos Amorim
Escritor e editor
http://br.geocities.com/prosapoesiaecia
Uma notícia, há algum tempo, me deixou feliz, mas ao mesmo tempo descrente: a venda de livros infanto-juvenis, no Brasil, subiu 50% (cinqüenta por cento!). Só que este índice fabuloso, segundo a notícia, era creditado à Internet. E foi este crédito que tornou discutível a informação. Está certo que a Internet facilita a divulgação de quase tudo o que é publicado, proporcionando maiores opções de escolha. Mas daí a dizer que foi ela quem provocou um aumento tão significativo, não sei não.
A internet é um recurso tecnológico valioso na pesquisa de qualquer assunto e uma ferramenta insubstituível nos dias atuais. Mas é sabido, também, que as crianças e adolescentes que têm acesso, não vão à rede procurar novos títulos para ler, com raras exceções.
Eles participam de bate-papos em salas de chat, no orkut, skype, msn, participam de jogos on-line, capturam e trocam músicas, vídeos, navegam ao sabor dos sites. O que é natural, diga-se de passagem, mas isso ocupa um tempo que poderia ser usado para ler, por exemplo. É, portanto, temerário creditar à Internet o crescimento do índice de leitura em crianças e adolescentes.
Acredito que o índice de cinqüenta por cento no incremento da venda de livros infanto-juvenis pode ser correto, pois o que temos visto nas tantas feiras do livro que atualmente existem, ajuda a corroborar isto: famílias inteiras comparecem, compram livros, saem de lá sempre com algum título nas mãos. E quando digo famílias inteiras, quero dizer pais com os filhos – crianças, jovens, adolescentes.
Interessante que, poucos dias depois de ouvir essa notícia na tv, leio numa dessas revistas semanais de informação, uma matéria de capa a respeito de pesquisa sobre leitura, que veio de encontro àquilo que havíamos concluído: o brasileiro gosta de ler. Ele pode até não ter dinheiro para comprar livros, mas gosta de ler.
De acordo com a pesquisa, 78% de cinco mil, quinhentos e três pessoas consultadas em quarenta cidades brasileiras, gostam de ler livros literários – e há que se considerar que esta é uma esmagadora maioria daqueles que responderam ao que foi perguntado. Destes, 62% leram ou consultaram livros e 30 % leram livros nos três meses que antecederam a pesquisa.
Outra descoberta interessante é quanto aos gêneros preferidos por esse índice de 78 % das pessoas entrevistadas, que tinham idade a partir de quatorze anos. Vinte e nove por cento prefere a literatura classificada como adulta pela pesquisa, onde se inclui ficção, história da literatura, ensaios, poesia.
A literatura infanto-juvenil quase não aparece, nesta pesquisa, pois os entrevistados tinham a partir de quatorze anos: apenas quatro por cento. Mas se as vendas dos livros infanto-juvenis cresceram cinqüenta por cento – e sabemos que este gênero é um dos que mais vende, nos últimos tempos – em se baixando o limite de idade para sete anos na referida pesquisa, o índice seria muito maior.