Markenson Marques *
Em tempos de Copa do Mundo a euforia e até mesmo o patriotismo, algo que nós brasileiros pouco praticamos, tomam conta das ruas do país na costumeira "corrente pra frente" em apoio aos jogadores da seleção. Por alguns, ou mesmo muitos, momentos, parece que todos os brasileiros esquecem um pouco de seus problemas pessoais e, principalmente, de uma série de desmandos e desvios de conduta de alguns políticos para encarnar o papel do torcedor. Este comportamento, se por um lado mostra a esperança e a confiança do povo em dias melhores, por outro lado é um sinal grave de desatenção e desapego pelas verdadeiras riquezas nacionais.
Diante disso, se por um lado o esperado hexa-campeonato mundial de futebol servirá para aumentar a auto-estima de uma nação sofrida e combalida, por outro traz a desagradável conseqüência de mascarar os sérios problemas éticos e morais que assolam ao Brasil já há algum tempo. A expectativa e a torcida a cada jogo da seleção, que pode durar por um mês inteiro, relaxa a atenção de muitos cidadãos sobre os acontecimentos políticos e econômicos do país. Se for seguida por uma longa comemoração em caso da conquista do título pelos talentosos jogadores brasileiros, pode encobrir uma série de problemas, que deveriam estar no centro das atenções de todos os brasileiros.
A conquista do hexa não é mais importante do que uma ampla reforma tributária que desonere as empresas brasileiras, do que a redução significativa da taxa de juros, do que a punição aos políticos que utilizam seus mandatos para legislar em causa própria ou mesmo enriquecer ilicitamente. Punição que independe da lentidão costumeira da justiça brasileira pode vir pelo voto consciente e esclarecido dos cidadãos, algo que pode ser prejudicado nos momentos de grande euforia, como no caso de uma eventual conquista de mais um título na Alemanha.
Por essas e outras, por mais que a paixão torne cada um dos brasileiros em um animado torcedor em frente à televisão, não podemos deixar de lado tantas questões primordiais ao futuro de nosso país porque somos, com méritos, os melhores do mundo no futebol. Se o hexa vier, que seja comemorado na medida justa de sua importância.
* Vice-presidente do Setcepar – Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Estado do Paraná e presidente da Cargolift Logística