O juiz - por Ronaldo José de Almeida

Jornal O Norte
Publicado em 05/07/2007 às 11:18.Atualizado em 15/11/2021 às 08:08.

Ronaldo José de Almeida *



O Dr. Julio César era um juiz conhecido como linha dura, como mão pesada, não tinha contemplação, nem misericórdia, todo réu, onde as provas circunstanciais lhe incriminavam, era impiedosamente lançado no calabouço.



Certa vez esse juiz entrou de férias e, ao voltar a trabalhar, mudou completamente seu enfoque e o teor de suas sentenças.



Passou a usar a máxima de na dúvida, “pro réu”.



Por mais que as provas circunstanciais incriminassem o réu, ninguém mais ia para a cadeia por sentença desse juiz.



Todos os advogados se entreolhavam e ficavam surpresos com tão radical mudança de enfoque.



Só que o juiz era muito reservado e fechado, não dando oportunidade de ninguém se atrever a lhe perguntar o que tinha acontecido.



Um dia, contudo, apareceu o Dr. Xavier de Paula, um velho advogado que tinha sido colega de turma do juiz Júlio César e lhe era íntimo.



Os advogados mais jovens cercaram o Dr. Xavier de Paula e lhe relataram o motivo de suas curiosidades.



Somente o velho advogado poderia desvendar o mistério. O causídico muito curioso, aquiesceu.



- Dr. Júlio César há quanto tempo não conversamos. Vamos tomar um café?



- Claro meu velho amigo Xavier.



E assim caminharam juntos para a cantina do fórum.



- Diga-me, Dr. Júlio César, porque é curiosidade de todos, inclusive minha, o que pode ter lhe ocorrido para ficares tão liberal com esses criminosos, mesmo as provas circunstanciais lhe sendo incriminatórias.



- Meu velho amigo Xavier, são coisas da vida, começou a falar o juiz.



- Você bem sabe que desde criança eu queria ser fazendeiro e o destino não me permitiu.



- Mas nestas minhas últimas férias recebi um convite de um primo que acabou de comprar uma fazenda na Vargem Grande.



- Não resisti ao desejo de passar uns dias na fazenda e fui com a minha mulher.



- Lá, um dia, perdi o sono e acordei cedo, eram 4:00 h. da manhã, resolvi ir ao estábulo tirar leite de vaca, outro sonho meu.



- Acendi as luzes do curral, apanhei um balde e caí no trabalho, só que a vaca era indócil, com a pata esquerda derrubava o balde.



- Então apanhei uma corda e amarrei sua pata esquerda numa estaca, aí ela derrubava o balde com a pata direita, amarrei a direita também.



- Sentei num tamborete e reiniciei o trabalho de ordenha, não é que a vaca começou a me chicotear com o rabo, com tal violência, que o jeito foi amarrar sua cauda numa trava do curral.



- Aí meu caro amigo é que começou o meu problema.



- Nesse momento eu tive vontade de urinar e foi exatamente quando a minha mulher, que estava á minha procura, entrou no curral e me deu o flagrante.



- Até hoje eu estou tentando provar à minha esposa que eu estava apenas tirando o leite da vaca.



As provas circunstanciais indicavam outra situação e ela não me perdoou.



* Advogado e articulista

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