Avay Miranda *
A língua portuguesa é muito rica em expressões. Existem palavras com denotação popular, que somente devem ser pronunciadas em conversas amistosas e particulares e existem aquelas palavras mais refinadas e rebuscadas que são pronunciadas, especialmente, em solenidades, em discursos e em conferências, ou outro ato solene.
Da mesma maneira, a pessoa humana é possuidora de gestos, posturas e expressões corporais que devem, ou não, ser praticados, de acordo com o cargo público ou da sociedade civil que ocupa, começando pelo Empresário, Vereador, Deputado, Secretário, Prefeito, Governador, Ministro e Presidente da República. Estas pessoas devem ter o cuidado de não usar de palavras ou de gestos que agridem ao ouvinte, ou a quem estar presente em tais solenidades.
Lembro-me bem que o Senhor José Sarney tinha uma preocupação toda especial em manter a liturgia do cargo, durante o tempo em que ele ocupou a Presidência da República.
Este assunto vem à discussão, em razão de ter o Presidente Lula usado e abusado em quebrar a liturgia do cargo, desde que foi eleito pela primeira vez.
Com efeito, a Presidência da República dispõe de assessoria capaz de elaborar discursos, abordando os diversos temas, para todas as solenidades que o Presidente participa e tem que usar da palavra. Contudo, o Presidente Lula tem preferência de utilizar da palavra de improviso, desprezando os discursos elaborados por sua assessoria.
Fico avaliando a angústia de seus assessores quando, em solenidade, o Presidente Lula abandona totalmente o papel e passa a falar de improviso, fazendo gestos e expressões corporais.
As comparações do seu ministério, do seu governo ou de qualquer outro órgão com um time de futebol, não fica bem para um Presidente da República. Outro dia ele foi visto sem sapato, chutando uma bola no gol. Isto é muito popular, pode agradar a alguns, mas, não está de acordo com a postura do cargo que ele ocupa, isto é, ele está ferindo a liturgia do cargo e agredindo a sensibilidade das pessoas. Da mesma forma, a utilização de expressões populares em solenidades é totalmente inadequada para o cargo que ocupa. O Presidente deve dar o exemplo, demonstrar a educação e gentileza dos seus governados.
Ao dar posse a alguns Ministros, ele disse que “ia pegar no pé!”. Esta é uma expressão muito popular, que quer dizer que o chefe irá cobrar resultados de seus subordinados, mas, não deve ser usada pelo Presidente da República. Se ele tem que cobrar resultados, por certo não confia nos seus Ministros. Em outra solenidade na véspera do dia internacional da mulher, quando o Presidente Lula falava sobre a necessidade de se usar preservativos, ele virou para a platéia feminina e disse que muita gente gosta de “fazer sexo”.
Fico nestes três exemplos. Não irei enumerar aqui as diversas vezes que o Presidente Lula agrediu a Liturgia do Cargo, em gestos e palavras e nem quero dar orientação ao chefe do Executivo Federal. Para isto, ele tem a assessoria, devidamente preparada. Como brasileiro, que amo o meu país, gostaria que o Presidente Lula seguisse a orientação de seus assessores para que o Brasil fosse bem representado, que o Presidente demonstrasse a educação e a cultura do povo brasileiro.
É certo que a Constituição Federal não exige que, para se candidatar a Presidente da República, a pessoa tenha que ter um curso superior. Tanto isto é verdade, que o Presidente Lula, como um torneiro mecânico, depois de quatro tentativas, chegou à Presidência da República, caso inédito na história do Brasil, sendo, inclusive, reeleito, no ano passado, mas, é certo, também, que ele teria que optar pelos gestos e palavras mais refinados, enquanto estiver ocupando o mais alto cargo do Poder Executivo, para não ferir a Liturgia do Cargo. Temo que a permanência do Presidente Lula nesse cargo, possa incentivar os jovens a não se preocupar com os estudos. Como o Senador José Sarney o apóia desde o primeiro mandato, o Presidente Lula bem que poderia tomar alguma orientação dele.
* Advogado em Brasília