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Quinta-Feira,18 de Dezembro

O fim de um pontificado

Jornal O Norte
Publicado em 27/02/2013 às 10:15.Atualizado em 15/11/2021 às 16:59.

Uma carta de renúncia bonita, objetiva, clara, encerrou o pontificado de Bento XVI. “Eu declaro que renuncio ao ministério de bispo de Roma, sucessor de São Pedro”, declarou o pontífice, com o que deixa o posto em 28 de fevereiro, após sete anos. Não é o primeiro a recorrer ao gesto, pois outros nove antes o fizeram. O mais recente foi Gregório XII, em 1415, para tentar pôr fim ao Grande Cisma do Ocidente.



Em 2013, não parecia muito provável uma renúncia de papa. Os tempos tinham mudado, mas os problemas foram persistentes: entre os homens e alguns na própria cúria romana. O caso de Gregório XII é típico. A igreja estava dividida, com dois papas, uma cúria em Avignon, uma em Roma. Havia duas administrações e dois sistemas legais independentes. Cumpria às nações europeias decidir a qual obedecer.



Tudo ficou confuso, até os santos com os erros e acertos da situação. Santa Catarina de Siena apoiou Urbano VI (1378-1389), enquanto São Vicente Ferrar aderiu a Clemente VII. Eamon Duffy observa que foi um trauma, com desastrosos efeitos do Grande Cisma. Os papas rivais criaram colégios de cardeais rivais e nomearam bispos e abades rivais, para as mesmas sés e os mesmos mosteiros. As despesas eram cada vez maiores a serem pagas por uma clientela dividida.



Perguntava-se: acaso Cristo abandona sua Igreja, deixando-a sem meios de solucionar o problema de ser um corpo com duas cabeças? Assim, surgiu o conciliarismo, procurando fazer com que um concilio para dar fim ao cisma e obrigando os dois papas a renunciar e eleger um pontífice, que não fosse de um ou de outro grupo, mas de toda a Igreja.



Em 1409, houve a solução conciliar, depondo-se Gregório XII e Benedito XIII, os dois papas em exercício. O problema se ampliou. Os depostos não aceitaram, como não aceitaram a eleição de Alexandre V. A Igreja passou a ter três papas. Diante da grave situação e, para resumir, Gregório XII tomou a digna iniciativa de abdicar.



O corpo eleitoral composto de cardeais e 30 representantes do concilio elegeu o cardeal Odo Colonna como Martinho V, com o que não concordou um dos papas deposto, Benedito XIII, que se sublevou, mas já não contava com os apoios anteriores.



Martinho V foi reconhecido, em 1417, como único papa legítimo e quase terminou com o grande cisma. Quase. Porque, embora não o diga, Bento XVI teve entre os fatores de sua renúncia as novas questões levantadas dentro ou fora da Igreja. Não tinha mais forças para suportar a carta.



Manoel Hygino- escreve no jornal Hoje em Dia

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