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Sábado,20 de Dezembro

O Chinelão dos Tropeiros

Por Ruth Tupinambá Graça

Jornal O Norte
Publicado em 29/11/2013 às 07:53.Atualizado em 15/11/2021 às 17:15.

* Ruth Tupinambá Graça
 
Por acaso existe alguém da nossa cidade que possa me informar onde foi parar o chinelão do Tropeiro que existia na entrada do aéreo porto? Foi esta a única homenagem que estes valorosos homens receberam graças a sensibilidade do artista Dr. Constantin Chritoff, único que reconheceu o valor destes grandes homens. Eu fico triste com a nossa comunidade. Pessoas civilizadas não valorizam a história da nossa cidade e menosprezam pessoas que tanto lutaram para que seus filhos sobrevivessem naquela época em que nossa cidade era isolada e seu único transporte era o cavalo e o carro de bois.

Estes valentes tropeiros partiam com uma pequena tropa com destino á outras cidades civilizadas que já existiam, para trazerem, no lombo dos burros tudo que a nossa cidade precisava: mantimentos e objetos que os comerciantes precisavam para manter seu comercio e alimentar a população pois o que ela produzia não era suficiente.

Eram homens simples mas extremamente corajosos e valentes.Os pés se queimando nas sandálias de couro cru, caminhando pelas estradas, enfrentando intempéries, as vezes chuvas, as vezes um sol escaldante, não falando nas feras que enfrentavam na travessia das extensas e fechadas matas ouvindo apenas o pio triste da Zabelê e o compassado canto do “fogo pagou” que alegravam um pouco o coração triste e saudoso daqueles pobres viajantes longe das famílias.

Muitas vezes, cansados alojavam-se á beira de um rio para matar a sede e refrescar, um pouco, o corpo queimado pelo sol escaldante e recuperar as forças para prosseguirem a dura caminhada. Sacrificavam-se mas não se arrependiam.Consideravam um dever  e uma responsabilidade voltarem com o carregamento de alimentos e utensílios que a nossa cidade precisava. Duravam meses esta viagem mas votavam felizes.

A geração de hoje não sabe nem calcula o que foi a vida destes homens.Hoje tudo é fácil. Existem transportes de vários tipos, estradas asfaltadas e o viajante poderá escolher mas naquele tempo  não existia outra opção.

Esta fase durou anos e os tropeiros eram os incansáveis viajantes á pé desde a fundação do Arraial de Formigas, até mesmo quando se transformou em Cidade de Montes Claros.

Não eram ambiciosos nem exploradores. Eram homens honestos, fieis e orgulhosos da sua profissão, indispensáveis para o crescimento da cidade que já  “engatinhava” mas era necessário ajuda-la a dar os primeiros passos...

Os negociantes precisavam deles para equilibrar e aumentar o comercio.

Felizmente eles tinham uma compensação.A comunidade daquele tempo respeitava-os. Com suas roupas simples e surradas, chapéus e sandálias de couro cru eles eram bem recebidos em todos os lares e muito prestigiados.

Eu me lembro, ainda alcancei, havia na cidade 2 Intendências (até os anos 20) mas não me lembro a razão deste nome sei apenas que foram construídas com licença da Administração Publica com a finalidade de  alojar os viajantes e tropeiros.

Uma delas era localizada na Praça da Matriz, hoje Dr. Chaves, bem no local onde é hoje a residência da família do Dr. Santos e ao lado da casa onde foi por muitos anos ,residência da Família Rego. A outra era na Rua Padre Teixeira  esquina cão Cel. Celestino.

Ocupavam grande espaço era um galpão ocupando meio quarteirão, construção rústica. Esteios altos de madeira de lei, e as paredes fechando o ambiente era de taboas grossas e para melhor ventilação não iam até o teto só metade com uma única entrada. Era onde se alojavam os tropeiros, na maioria solteiros,não tinham residência fixa.

Lá eles se arranchavam guardavam as bruacas  esperando o dia da próxima viagem.

Era um ambiente alegre onde se juntavam os amigos e companheiros das estrada.s.

Num canto  um fogão improvisado com trempes de ferro onde se apoiavam os grandes caldeirões para as feijoadas.

A noite acendiam uma fogueirinha (não havia luz elétrica) e até chegar o sono, tocavam  e cantavam músicas sertanejas que espalhavam o som por toda a Rua Padre Teixeira.

Algumas crianças daquela Rua (cheias de curiosidade) gostavam de visitar  aqueles tropeiros  e ás vezes tomavam até um cafezinho. Nesta época eu morava  também na Rua Padre Teixeira mas não ia visita-los  pois as meninas daquele tempo eram muito” recatadas e vigiadas (”pais severos) só os meninos tinham estas  regalias.

Estes homens tiveram influência total no desenvolvimento da nossa cidade. Eles bem mereciam, não apenas uma sandália de cimento,(que até desapareceu) mas  uma estátua na Praça Dr.Chaves,(onde a cidade começou) ou pelo menos seu nome em uma das Avenidas da nossa cidade.

Espero que um dia isto ainda aconteça.    
 
*-Academia Montesclarense de Letras
*Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

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