Reinaldo Espinosa
Presidente da ABTG - Associação Brasileira de Tecnologia Gráfica
Enquanto as árvores nativas são devastadas e contrabandeadas, culpam-se equivocadamente os livros, jornais e revistas por danos ambientais.
É assustadora e preocupante a incapacidade do Brasil, ou pelo menos de organismos públicos decisórios e alguns formadores de opinião, de fazer diagnósticos corretos sobre graves problemas nacionais. A percepção invariavelmente distorcida de alguns cenários e tendências acaba comprometendo a eficácia das soluções, prejudicando muito a Nação. Exemplo lamentável desse fenômeno cultural verifica-se no trato da questão relativa à preservação ambiental, sustentabilidade dos recursos naturais e econômicos, proteção da Amazônia e garantia de insumos, nesse contexto de responsabilidade quanto à ecologia, para setores industriais importantes.
Pois bem, no âmbito de todo esse intrincado conjunto de variáveis, a diplomacia nacional, por mero equívoco de avaliação, tornou o Brasil signatário da Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada no ano passado pela ONU. O país dono da maior parte da Amazônia, detentor da maior reserva hídrica e da mais rica biodiversidade do Planeta jamais poderia ter aprovado tal tratado sem algumas alterações cirúrgicas em seu conteúdo. Ao apor a assinatura dos 190 milhões de brasileiros nesse acordo, nossos diplomatas tornaram mais frágil a soberania nacional sobre as áreas indígenas.
Há alguns itens que jamais poderíamos ter aceito, dentre eles os que tornam os territórios dos índios praticamente nações autônomas, sem presença de forças militares do País e com absoluta liberdade para fazer acordos externos, inclusive com outros países. A esse diagnóstico errado, o governo não deixou por menos, cometendo equívoco ainda maior: delimitar reservas indígenas, como a Raposa Serra do Sol, de modo contínuo. É fácil perceber que a soma do tratado com essa pérola demarcatória das áreas expõe a Amazônia a toda sorte de irregularidades, a começar pela presença de ong´s de natureza bastante duvidosa. Certamente, as longas extensões fronteiriças dos territórios indígenas com outras nações é um canal aberto e sem qualquer capacidade de interferência do Estado.
Claro que os índios têm direito às suas terras, às prerrogativas da cidadania, à manutenção de seus costumes e cultura. A demarcação contínua, contudo não soluciona essa questão e não lhes garante prioridades como educação e saúde. Porém, junta-se à fiscalização precária da Amazônia e a problemas ainda não solucionados, como a devastação da floresta, em especial para o torpe comércio e contrabando de madeira ilegal e estabelecimento de áreas irregulares para atividades agropecuária.
A verdade é que a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, da maneira como foi aprovada, significa um verdadeiro Cavalo de Tróia para o Brasil. A diferença entre o nosso fatídico eqüino e aquele descrito no poema épico Ilíada, de Homero, é que os troianos não ajudaram a construir a armadilha que os destruiu, ao contrário dos artesãos da diplomacia brasileira, que tiveram ativa participação na arquitetura do bicho.
Para completar essa pândega com a soberania nacional, há formadores de opinião, contra o bom senso e a realidade, tergiversando sobre a questão. Até mexicanos ex-comissários da ONU já se arrogam o direito de palpitar sobre o destino de nossos cidadãos, inclusive indígenas, nossas terras e nossa Amazônia. E dá-lhe manobras diversionistas: enquanto a devastação e contrabando de maneira ilegal continuam campeando à solta na Amazônia e na esteira de um tratado que quase torna internacionais as terras indígenas, culpa-se a indústria do papel e os segmentos das quais é fornecedora pela ameaça à sustentabilidade e ao ambiente.
Jornais, revistas, livros, cadernos e impressos em geral, considerando ser o setor gráfico um dos grandes consumidores de papel, são condenados por alguns, em sumário e obtuso julgamento, como responsáveis pelo uso da madeira. Ora, que falta de conhecimento. A produção de papel só utiliza madeira de origem certificada e integralmente proveniente de reflorestamento. Esta atividade, além de seqüestrar expressivas quantidades de carbono na atmosfera, ainda garante a sustentabilidade da produção, sem ameaçar uma árvore nativa sequer. Parece mais fácil culpar a mídia gráfica, a maior difusora de conhecimento, cultura e educação, do que ter a coragem de colocar o dedo no cerne desse problema tão grave enfrentado pelo Brasil. Talvez se nossos diplomatas tivessem lido mais livros sobre o tema, não assinassem tão passiva e facilmente um tratado que ameaça a Amazônia Legal.