O buraco é mais embaixo

Por Eduardo Costa

Jornal O Norte
Publicado em 14/01/2014 às 01:01.Atualizado em 15/11/2021 às 16:43.

* Eduardo Costa

Impactados pela barbaridade do assassinato de dois advogados na Serra do Cipó, começamos a atirar para todos os lados. A gente quer justiça, mudança das leis e até pena de morte. Muita calma nesta hora. Mesmo admitindo que o país devesse fazer um plebiscito para este e outros assuntos recorrentes (afinal, não estamos numa democracia?), não acredito na pena de morte como solução para a violência, até porque eu teria dúvidas de quem executar primeiro: o assassino frio da advogada indefesa ou o senador que usa jatinho da FAB para ir de Brasília a Recife atrás de cura da calvície.

Mudanças na lei? Não creio que sejam tão importantes. Afinal, já temos leis demais. Vejamos: se um cidadão comete um crime de latrocínio – mata para roubar – com agravantes de impossibilidade de defesa da vítima, formação de quadrilha, estupro entre outros, ele pode pegar até 30 anos de cadeia. Ora, se foram duas vítimas, a pena pode chegar a 60 anos. Se já temos possibilidade de manter o infeliz por 60 anos enjaulado (neste caso, a gente deixaria de considerar a pena máxima de 30 anos, pois foram dois crimes) não está automaticamente instituída a prisão perpétua?
Então, para que complicar? É só fazer cumprir a lei. Cadeia mesmo. Cana brava. Tipo acordar às 6 da manhã, tomar banho gelado (com a água saindo de um cano da parede), café com leite e um pão com manteiga. O cidadão quebra pedras ou capina ruas de 7 às 11h, almoça, descansa meia hora, pega de novo no batente, debaixo de sol ou chuva, até as 6 da tarde, sempre com uma bola de chumbo nos pés para limitar os movimentos e, no caso de qualquer tentativa de fuga, fuzilamento por parte do agente que estiver vigiando. Às 6 da tarde, retorno ao alojamento, outro banho frio, prato de feijão com arroz e alguma verdurinha – carne só uma vez por semana – e cama. Não precisamos mudar leis ou fazer malabarismos. É só acabar com a farra de benefícios, progressão de penas e recursos sem fim por parte de criminosos inteligentes e seus advogados maquiavélicos.

Mas, paralelamente, é preciso combater de fato o tráfico e fazer um grande trabalho de orientação, educação mesmo, utilizando exemplos de mortes e sofrimentos, que podem chocar, para combater as drogas, sem dúvida alguma o grande motor dos tempos de horror em que vivemos. Ou alguém duvida de que esses infelizes que acabaram com os dois advogados eram viciados pés-de-chinelo que queriam dinheiro a qualquer preço para comprar crack? Será que ainda há dúvidas de que Conceição do Mato Dentro e outras cidades estão sofrendo com exploração mal planejada de minério, resultando na transferência para municípios pobres e de prefeitos fracos, as mazelas do vício? Não é preciso mudar leis, mas, conhecer outro mundo possível. É parar com o faz de contas e punir com verdadeiro rigor criminosos vagabundos como esses da Serra do Cipó.

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