Eugênio Magno *

Se os olhos do mundo não se voltaram para a América Latina e para o Brasil nos últimos dias, pelo menos duas das figuras mais importantes do globo viram, muito de perto, essas realidades.

Será apenas uma mera coincidência o fato de o papa Bento XVI e o presidente dos E.U.A., George W. Bush visitarem essa parte do continente em datas tão próximas? Por quê será que o apagão aéreo ocorreu tão próximo a essas visitas, à realização da 5ª Conferência do Episcopado Latino Americano e do Caribe – CELAM e a esse momento de grande mobilização para os Jogos Pan Americanos? Há quem diga que o Vaticano e a nação mais poderosa do planeta andam muito preocupados com o aumento considerável de lideranças de esquerda ocupando cargos de chefe de estado pela América Latina afora, enquanto no velho mundo e nos países ricos, a tendência é diametralmente oposta. Nesses tempos de apagão houve também algumas especulações, por parte de ex-líderes revolucionários dos anos 1960, de que a crise no espaço aéreo brasileiro seria uma tentativa de golpe de estado; um boicote ao governo Lula.

E por falar em Lula, a presença de Franklin Martins à frente da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, parece ter dado ao presidente mais segurança para enfrentar a sabatina dos jornalistas. A entrevista coletiva do presidente, tão reclamada, pela imprensa, enfim, aconteceu. Esta, aliás, é a segunda coletiva de Lula desde que assumiu o poder em 2003, e a primeira, depois da posse no segundo mandato. O presidente disse que no atual governo está mais flexível que no anterior. Vamos ver se ele se anima a repetir a dose num espaço de tempo mais curto entre a primeira coletiva e esta. Na entrevista, Lula ficou à vontade com os jornalistas e falou com desenvoltura sobre vários assuntos. Uma questão levantada na coletiva, que já vinha gerando polêmica e sobre a qual o presidente tem sido alvo de críticas da imprensa, é o seu projeto de coalizão. Alguns setores da mídia acusam o governo de tentar cooptar ex-críticos e adversários políticos oferecendo a eles cargos no alto escalão.

Maledicências à parte, os temas da coletiva que mais estão repercutindo são o da posição do presidente com relação às greves do funcionalismo público e o da sucessão presidencial. No que diz respeito às greves, embora as declarações do presidente possam parecer contraditórias, levando-se em conta o seu passado de líder sindical que usou inúmeras vezes desse recurso, suas argumentações de que a greve do funcionalismo causa prejuízo aos cofres da nação e não repercute apenas nos bolsos de um grupo empresarial específico, tem sido bem aceita pelos formadores de opinião. Já no que diz respeito à sucessão, o presidente afirma categoricamente que não é defensor de uma nova reeleição. Ele diz que é favorável ao mandato de 5 anos e que pretende fazer o seu sucessor, que segundo ele, não tem que ser, necessariamente, alguém do Partido dos Trabalhadores, mas que deve ser, isto sim, da base aliada, para dar seqüência ao seu trabalho.

Entre os partidos da base, o que tem mais cacife para apresentar um candidato à presidência da república é o PMDB. Se os analistas políticos estão corretos em suas análises, quando afirmam que o governador de Minas, Aécio Neves, deve deixar o PSDB, para evitar polarizações internas e disputar a presidência por um outro partido, tudo indica que ele vá para o PMDB. Principalmente, a julgar pela forma com que ele tem sido cortejado pelos caciques do partido que seu avô ajudou a fundar.

Embora os principais personagens desse processo não façam nenhuma declaração objetiva e direta sobre o assunto, o que é muito comum em se tratando de política, já começam a aparecer os primeiros contornos do que será o quadro da disputa presidencial de 2010. No Brasil, essas coisas são urdidas com grande antecedência e muita parcimônia.

* Comunicólogo, mestre em Artes e especialista nas áreas de Educação e Fé e política

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