JC Junot
Cliente da família Aguiar, cuja gerente atendeu de pronto.
Entusiasmado com a campanha publicitária que a Artplan criou para o Banco do Brasil, julguei que se o BB é do Paulo, da Bruna e da Renata, também deveria ser meu. Assim, aproveitei o tempo ameno que certo dia fez na cidade, vesti uma beca, e fui ter-me com os “meus sócios”.
Logo na porta, uma placa me animou: Agência Santo Expedido. Ora, se o santo que é invocado para solução imediata de problemas financeiros patrocinava o negócio, estava no lugar certo. Além do mais, acreditava que sendo “sócio” meu problema deveria ser facilmente resolvido. Afinal, o Banco do Brasil é “todo meu”, diz a campanha baseada no conceito de que: “Só uma coisa deixa a a gente mais feliz do que ver o seu nome na nossa fachada. É ver seu nome na fachada do seu próprio negócio”.
Então, era mandar ver.
Entrei e esperei exatamente uma hora para ser notado, entre espirros, tosses e ranranhar de garganta. Tudo por conta do ar-condicionado programado para dias de sol, o que não fazia lá fora, já que ainda era inverno. Mas como o banco era nosso, dane-se para o desperdício de energia, além do mais, estamos investindo no buraco da camada de ozônio com o gás CFC que sai dos aparelhos, isso deve ser bom para os negócios, imaginei. E está monetariamente enganado quem pensa que pode pegar o vírus da gripe suína dentro da agência, só porque ele se propaga com grande rapidez em ambientes gelados e fechados. O BB é nosso é nada nos afetará. Ou faltará.
Por fim, fui recebido por uma senhorita de pouca conversa, de jeito circunspecto, que foi logo ao ponto, sem perda de tempo, como age todo dono de banco.
Confiante, expliquei à minha “sócia” que estava abrindo uma empresa na cidade e que precisava de dinheiro para tocar o negócio, o famoso capital de giro.
- Primeiro, a empresa tem que estar faturando – disse ela sem meias palavras.
- Bom, se estivesse faturando eu não estaria aqui. Eu mesmo resolveria meu problema.
- É o regulamento.
- Sim, mas eu vim atrás dos incentivos que “nós” veiculamos nos anúncios de revista, jornais e TV para fomentar as pequenas empresas e promover a criação de novos empregos, lembra?
- Sem faturamento, não tem conta, nem cheque especial.
- Mas eu não quero cheque especial. Quero o dinheiro do BNDES, aquele que tem uns anos de carência e outros tantos pra pagar... e juros civilizados.
- Aí não tem jeito.
- Como não tem jeito? Tem que ter. Você não é a gerente?
- Não, eu não sou a gerente. Sou assistente da gerente – disse sem perder a fleuma.
- Então é isso, talvez você não esteja devidamente informada sobre estes novos incentivos. Me deixa falar com a “sócia” gerente?
- Ela não atende quem não é cliente.
- Como assim? - Perguntei assustado, afinal “somos sócios”, pensei.
- Ela só atende em visitas com hora marcada a quem é cliente.
Aí eu fiquei preocupado. A coisa me pareceu um pouco equivocada no “nosso” banco. Porque em banco de Moreira Sales, Setúbal e Aguiar, gerente que não recebe cliente tem tudo para não acabar bem o dia. Mas como o BB é nosso, bem, vamos deixar isso pra lá.
- Quem sabe a “sócia” assistente não poderia me informar o telefone da “sócia” gerente? - Perguntei.
- Vou te dar o telefone da secretária, mas vou logo avisando, a doutora Ellen é muito ocupada.
- Claro, claro, como todos nós, “donos de banco” - murmurei trincando os dentes.
Diante da inflexibilidade da “sócia” assistente, já pronta para chamar o próximo “sócio” da fila, peguei o número e sai. Antes de passar pela porta giratória me lembrei de Santo Expedito e imediatamente me veio a constatação: se nem ele pôde me ajudar, como é que eu vou fazer?
Aliás, faço um parêntese para perguntar quem foi o sádico que colocou o nome do santo na agência bancária? Sim, porque está comprometendo o canonizado ao criar falsas esperanças em clientes que não são atendidos em suas necessidades. Isso é um perigo para um sujeito no aperto e que se vê abandonado até pelo santo de sua devoção. Uma visita ao banco pode acabar em tragédia.
Aposto que nem Edir Macedo, que não é chegado a imagens e santos foi tão oportunista.
A caminho de casa conclui que, a despeito da campanha da Artplan, o Banco do Brasil não é do Paulo, da Bruna ou da Renata. Muito menos meu. O Banco do Brasil não é sequer dos brasileiros. Na verdade, o BB é da Ellen e – dizem -, do governo. Mais ninguém.