Felippe Prates
No ônibus, a caminho do trabalho, Diana olhou para o relógio para saber que horas eram. Mas o reloginho de pulso não estava em seu braço. Teria se soltado e caído? Procura daqui, procura dali, no assento, no chão e nada... Eis que firmou os olhos num jovem sentado ao seu lado e sentiu que havia algo de estranho no ar, que o rapaz parecia incomodado com aquela tentativa de localizar o relógio. Ah... Fora ele, olha só a cara do malandro tentando disfarçar, com ar de “não tô nem aí...”
Tava, sim! Cara de gente não me engana, pensou ela, muito convicta. Começou a ficar revoltada com a ousadia daquele sujeito, como era possível um assalto àquela hora da manhã, tão cedo, logo o seu reloginho de pulso... Está certo que não era nenhuma jóia preciosa, apenas um reloginho “roscófe”, marca desconhecida, modesto e até meio descascado. Mas, custara dinheiro, não caira do céu por acaso, já o possuía havia tempo, gostava dele, o reloginho de pulso bom companheiro...
Na hora sentiu muita raiva do ladrão e resolveu tomar uma atitude! Diana encheu-se de coragem, abriu sua bolsa, chegou bem perto do safado e lhe disse entre dentes:
- Bote o relógio aqui dentro da bolsa, salte no próximo ponto e nada lhe acontecerá!
Dito e feito! O suspeito sentiu a barra, olhou à sua volta muito assustado, agiu rapidinho e ela sentiu quando o relógio foi jogado dentro de sua bolsa, fechou-a, enquanto o cara se levantou de um salto, deu o sinal e desceu imediatamente do ônibus.
Diana ficou satisfeita com sua enérgica e bem sucedida ação. Se tudo mundo agisse desse jeito, a quantidade de ladrões nesse mundo iria diminuir muito! Mas, por medo ou por vergonha de um escândalo, os lesados nada fazem, se acomodam e nem sequer dão queixa à Polícia... Uma pena! Saltou alguns pontos depois, trabalhou o dia inteiro e envolvida pela rotina do escritório até se esqueceu do acontecido.
No final do dia, terminado o expediente voltou para casa, chegou cansada, mal cumprimentou as pessoas e foi direto para o seu quarto para dar uma esticada nas pernas, tentar se recuperar um pouco antes do jantar. Ao entrar, olhou instintivamente para a mesinha de cabeceira e lá estava o seu tão querido reloginho!
Um calafrio desceu-lhe espinha abaixo.
Diana, assustadíssima, abriu a bolsa, procurou e encontrou um relógio de pulso masculino...
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Nossos parabéns ao querido amigo Petrônio Braz pelos oitenta janeiros e o ingresso na Academia Montes-clarense de Letras.
“The difference between man and boy is in the price of their toy.” (A diferença entre o homem e o menino está no preço de seu brinquedo). Antigo ditado escocês de autor desconhecido.
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